2016/08/30

INFELIZES ROUBADOS

Março de 2016 revelou-se cruel para os alunos da Escola Condução Europa, em Matosinhos. Um papel afixado nas instalações foi o único aviso de que a escola se encontrava encerrada. Nada fazia prever tal cenário, inclusive dias antes foram aceites marcações de exames, inscrições e até descontos para pagamentos antecipados.

A escola garantiu ter sido forçada a encerrar uma vez que a equipa de trabalho suspendeu, colectivamente, as suas funções. A nota informativa, escarrapachada na porta, explicava que tinham entrado em Processo Especial de Revitalização, o que não impedia o funcionamento. Os alunos lesados mobilizaram-se e dirigiram-se às instalações, para protestar, e ao Tribunal de Matosinhos. O processo está, contudo, a ser conduzido em Santo Tirso. São vários os alunos e familiares que quiseram agir judicialmente, tendo recebido indicação da nomeação de um administrador judicial provisório.

A vontade é reaver os valores pagos. No entanto, a esperança em ter o dinheiro de volta é escassa, entre os queixosos. A principal preocupação é ter acesso às licenças de aprendizagem, para que possam continuar a tirar a carta de condução noutra escola. Segundo Daniel Soares – advogado representante de alguns queixosos – será difícil recuperar os valores investidos se a empresa está com dificuldades financeiras.

Meses depois, a proprietária, Ana Mafalda Portela, mantém-se incontactável. A correspondência amontoa-se no chão, junto à porta de entrada, sem espaço para mais ordens judiciais. No painel publicitário – onde se lê o lema da escola: “aqui nós somos felizes”, alguém rasurou para “Infelizes roubados”. Desportivismo e humor. Assim se encara a realidade…

2016/08/23

NINGUÉM VAI ACREDITAR NISTO...

O drama dos fogos florestais e falta de meios, das autoridades competentes, não é qualquer novidade ou motivo para graçolas. Mas há alturas em que as forças no terreno duvidam da sua sanidade mental. Em Caminha, bombeiros, sapadores, agentes da GNR (Guarda Nacional Republicana) e outros operacionais desenvolveram esforços numa serra árida consumida pelas chamas e submersa num manto de fumo denso. Enquanto alguns habitantes abandonavam as suas casas para fugir do fogo, um repórter televisivo – numa reportagem em directo – foi surpreendido pelo pivô (também ele incrédulo) perante uma imagem curiosa no meio das chamas: um astronauta... 

 

José Rodrigues, bigode branco até ao queixo e tocador de concertina nas romarias, estava longe de imaginar que o seu “amigo”, vindo de França, se transformaria no foco de atenção daquele dia. Não há registo do nosso envolvimento na conquista do espaço. Pelo menos, directamente, pois há Tugas a trabalhar para a Nasa. (Curiosamente, na presença de outros povos e noutro país, conseguimos fazer boa figura). Enquanto as labaredas gigantes lhe cercavam o lar, estava risonho e confiante de estar a salvo, contrastando com o pânico da esposa Arminda. O maior incêndio da última década, na serra onde escolheu viver após anos de emigração, acabou por não atingir a sua habitação. O seu astronauta foi uma “estrela” nas redes sociais. José ri-se de tudo isto.


 in "As Crónicas Tugas, tem de ser" (Chiado Editora, 2016)

2016/08/15

LIVRAI-NOS DO MAL

Nada disto que escrevo vai alterar o rumo dos acontecimentos ou mudar mentalidades. Mas, todos os anos, por esta altura, repete-se a mesma história: o flagelo dos incêndios florestais. Tudo em nome da maldita ganância em arranjar maneira de vigarizar umas quantas apólices de seguros e conseguir despachar uns pinheiros que - segundo os proprietários - incomodam e ficam melhor quando trocados por eucaliptos.

A estupidez e egoísmo destas bestas cega-os! Esquecem que o Homem não controla a Natureza e, que, o fogo é um elemento totalmente imprevisível! Em poucos segundos ganha "vida própria” e põe em causa populações envelhecidas, esquecidas e afastadas dos centros. Perder uma casa - esforço e sacrifício de décadas - é uma dor e agonia que não consigo descrever. Inclusive, quando há idosos acamados que não conseguem escapar sem ajuda dos vizinhos.

Os bombeiros - lembram-se?! Aqueles barrigudos que acusamos de nada fazer durante o ano?! Sim, esses. Transformam-se em heróis! Desdobram-se em esforços sobre-humanos para lutar contra um inimigo demasiado poderoso! Arriscam as suas vidas a cada segundo. Conseguem, minhas bestas pirómanas, imaginar a angústia e desespero das famílias dos bombeiros que, neste momento, tentam corrigir o vosso gesto de estupidez?! E que dependem de equipamento obsoleto (cortesia de um ministro engravatado que não prescinde da sua viatura topo-de-gama). Há corporações com viaturas mais velhas que eu!

Sei que tenho dedicado a minha escrita aos factos caricatos Tugas. Hoje não vou criticar! Quero transmitir a minha solidariedade e força aos que lutam contra a estupidez humana. Pois, sem dúvida, é ela a principal responsável por este flagelo! E, parece não haver solução à vista…