A JANGADA DE PEDRA

O clima está completamente virado do avesso. A chuva e o vento instalaram-se definitivamente por cá. Tempestades terríveis mudaram o aspecto de algumas cidades graças ao seu rasto de destruição. Parece que a maldita austeridade ultrapassou o plano financeiro e também ordenou cortes nos dias solarengos. Mais empobrecidos e acusados de atrasar os restantes países da Europa devido às nossas dificuldades económicas. Somos a “cauda da Europa”! Penso que todos estes motivos combinados deram origem a um plano maquiavélico para a nossa saída da crise...

 

Uma solução épica: porque não mudar de sítio? Isso! Sair da Península Ibérica! As últimas declarações de Passos Coelho reforçam a minha suspeita… «ele pede que remem todos para o mesmo lado». Redescobrir o espírito da época gloriosa dos descobrimentos! Conquistar outros mundos! Mil epopeias, vidas tão cheias! Oceanos de amor! Enganar novamente os espanhóis! Mas agora, sem as enormes caravelas! Aproveitar as constantes inundações e ventos fortes! O território nacional será a nossa jangada de pedra.

 in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)

UM ENORME OBRIGADO

Uma simples homenagem a um dos poucos homens que conseguiu a imortalidade através do mundo do futebol. Eusébio Da Silva Ferreira. Pela diferença de gerações nunca o vi a jogar. O “maior astro” que consegui ver foi um puto chamado Leonel Messi, em início de carreira, na inauguração do Estádio do Dragão. Mas prestei mais atenção ao novo estádio, do que propriamente ao prodígio argentino! Todos temos gravado na memória a história do jogo, de 1966, contra a Coreia. Eh pá! Deixamos os “gajos” marcar três golos de avanço e depois levaram cinco! Que reviravolta histórica! E conhecendo os exageros do regime político, que terá acontecido aos jogadores coreanos!? 

 

Estive num café, junto a um grupo de “mestres da batota” em jogos europeus, como a sueca e o belga, quando um deles reparou que um canal de televisão pública, como recordação nostálgica, vai voltar a transmitir o jogo. E então, com uma enorme dose de entusiasmo, gritou a plenos pulmões, ou aqueles que a avançada idade permite: «Eh! Pessoal, logo vai dar em directo o jogo de Portugal contra a Coreia…». O tempo não passa quando as recordações são fortes.

in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)

BULLYING DESPORTIVO

Nos últimos anos, e apesar dos esforços desenvolvidos, a prática de bullying escolar, ainda persiste e com resultados trágicos. A sociedade está atenta e mobilizada para erradicar este flagelo educacional. Mas será prática exclusiva do ambiente escolar? Não! Está presente quando um individuo (ou grupo) recorre à violência física ou psicológica, intencional para alterar o pensamento e vontade de terceiros. Pelo seu poder e estupidez, destaco as claques de futebol. A maioria das claques portuguesas não está registada no Conselho Nacional do Desporto, vivendo na ilegalidade e sem o apoio institucional dos clubes...

 

Recebem bilhetes a preços mais acessíveis e ajudas de custo nas viagens de longo curso. Muitos auto-financiam-se com venda de produtos de marketing com a marca da própria claque. Mas sempre sob a capa do anonimato. Uma paixão exagerada que apenas gera violência gratuita! Nos estádios de futebol as centenas de adeptos, que desistem de ver os jogos, são substituídos por membros das claques. Sem qualquer réstia de racionalidade, apenas se limitam a gritar cânticos e a tentar provar uma superioridade clubística que nunca existiu. Tudo na companhia de muito álcool, cigarros com fumo esquisito, testosterona e porrada!

in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)