2018/01/31

A ARTE DO DESENRASQUE


Circula uma teoria económica popular que critica o desperdício de verbas por falta de sensibilidade dos gestores públicos. Defende que a contabilidade deve ser idêntica à análise financeira das nossas casas. Ter noção das receitas e, principalmente, das contas a pagar. Mesmo com a firme convicção que as autarquias estão a fazer um esforço para evitar grandes gastos. E, neste ponto, a arte do desenrasque é fundamental…

Matosinhos foi (novamente) referenciada nas redes sociais e comunicação social. Num constante esforço de modernização citadina, pela autarquia, para melhor receber os turistas, foram criados corredores de circulação para as bicicletas. Meio de transporte bastante apreciado e que não polui. Bravo, senhores do respectivo pelouro! Resolveram aproveitar as estradas existentes. Numa das principais artérias da cidade começaram por delinear, no pavimento negro, rectângulos brancos, para o estacionamento ordenado de viaturas. Gratuito até indicação contrária…

No dia seguinte, o espanto tomou de assalto os Matosinhenses. Pelo raiar da manhã, tornou-se visível que a máquina de pintar linhas queria mais do que o alcatrão. Atacou os passeios sem dó nem piedade! Num acto ruinoso – revelador de graves falhas matemáticas – os respectivos técnicos começaram a traçar uma linha longitudinal no passeio destinado aos peões. 80%, destinado aos ciclistas e restante percentagem para os transeuntes. Apesar de estar no plural, convém referir que apenas passava uma pessoa de cada vez. Carrinhos de bebé? Pela faixa dos ciclistas ou pela estrada. Simples! Tem rodas! O erro foi reparado e a faixa separadora removida, naquele que é o mais recente, triste e evitável episódio da cronologia desta cidade…

2018/01/26

UM COMPLETO DESNORTE


Ricardo Salgado, ex-presidente executivo do Banco Espírito Santo, teve um império financeiro sob a sua alçada. Foi considerado o banqueiro há mais tempo no activo em Terras Tugas. Uma referência nacional e exemplo a seguir. Em 2014, graças a um processo de investigação, foi detido em sua casa por alegado envolvimento na maior rede de branqueamento de capitais alguma vez detectada por estes lados.

A investigação está longe de estar concluída. E o juiz responsável decidiu que o acusado vai aguardar o desenrolar das investigações em prisão domiciliária, sem pulseira electrónica. Poderá sair excepcionalmente da habitação, com autorização do juiz. Recebeu também, como medida de coacção, a proibição de contactar os restantes arguidos no processo. O documento foi redigido e entregue às autoridades para que fizessem cumprir a vontade suprema do juiz. O modo de garantir a vigilância e cumprimento das ordens judiciais ficaram a cargo da PSP de Cascais que admitiu dificuldades em assegurar este serviço. Problemas!

A vigilância foi alterada porque durante dois dias um dos agentes esteve na porta errada. Revisto o dispositivo de segurança continuaram a ser necessários oito agentes policiais por dia. Pudera, o casarão é enorme! No terreno, alguns agentes anotaram a hora e as matriculas das viaturas que entravam nas instalações. Por vezes verificavam os seus interiores ou então, o número total de visitantes. A lista dos incontactáveis não chegou. Os agentes não souberam a identidade das pessoas com quem o ex-banqueiro não podia contactar. Um completo desnorte policial!

Ordens judiciais imprecisas acabaram por afectar a reputação das forças de autoridade. Algo que, sinceramente deveria ter sido evitado num caso com tamanho mediatismo…

2018/01/25

NA PAZ DOS ANJOS


Estou muito surpreendido com a diversidade de temas de que escrevo neste livro mas quando chegou, à minha mesa de trabalho, uma notícia de conflitos numa comunidade católica, por causa de um padre, até eu disse: «Isto está bonito, sim senhor!». Intrigas, cartas anónimas, vigílias, contestação e insultos, padres e políticos, chantagens e ameaças, suspeitas de corrupção. Um enredo que parece feito à medida de uma grande produção cinematográfica. Mas ainda muito longe da ficção aquilo que se passa na freguesia de Canelas, em Vila Nova Gaia. A confusão instalada parece não ter solução à vista…

Há quem acredite que o assunto vai esmorecer com o tempo. Para já, a única certeza é que aos domingos, e dias santos, estão garantidas manifestações contra o pároco, indicado pela diocese, e reivindicação do regresso do padre Roberto Sousa. O assunto saltou para os jornais quando, o padre Albino quis celebrar a sua primeira missa e precisou de sair com escolta policial. A população avoluma-se fora da igreja durante as missas. Os contornos são complicados. Tudo começou por causa se uma estátua a um antigo padre, que um grupo de moradores queria mandar construir para colocar no átrio da igreja. Um mero pretexto. Já ninguém se importa que sejam feitas homenagens, ou não. A diocese explica a sua decisão com um sistema de rotatividade de párocos. Para evitar hábitos.

Já se perdeu o rasto de tanta reclamação junto de várias entidades. Os católicos – mesmo os que nunca apareceram na igreja – continuam unidos numa guerra santa contra o novo pároco. A procissão ainda vai no adro e, ao contrário do que se espera, a paz anda longe de estar entre eles…

2018/01/22

OS DIREITOS DOS AUTOMÓVEIS

Pela calada da noite, certos indivíduos têm vindo a realizar algumas acções de manifesto para os maus-tratos infringidos às viaturas automóveis. Visam a mudança de comportamento desleixado do proprietário. A mensagem é deixada no vidro traseiro. Aproveitam a elevada quantidade de lixo para, em letras garrafais, deixar uma mensagem bastante diplomática: «Lava-me porco!». As forças de autoridade apoiam esta luta. Certamente não andam a deixar mensagens nos vidros! Recorrem ao Regulamento do Código da Estrada! Mais concretamente o decreto-lei 987/54, artigo 23. Foi aprovado em 1954. Altura em que poucos tinham automóvel. Ainda hoje faz questão de se fazer sentir na nossa carteira!

No Montijo, Jurandi Fernandes foi multado quando circulava na Rotunda do Apeadeiro (EN252). No documento oficial está patente que o veículo em que circulava apresentava o banco do condutor com o estofo roto! E quase esquecia de informar o montante da multa: 7,48 euros. Caros leitores, verifiquem o estado de conservação da vossa viatura. Pelo menos uma lavagem, de vez em quando. Lembrem-se que os maus-tratos automóveis são punidos por lei. E nestas coisas, o código é para se cumprir…

2018/01/21

UM DOMINGO QUALQUER

Acompanhei a gala do concurso da TVI. Não por curiosidade, mas para acabar com a sensação de isolamento nas conversas entre amigos. Devo ser um dos poucos que não viu uma concorrente mostrar os seios em directo! Tema de conversa durante semanas a fio! Na sua busca incessante por audiências a produção não olhou a meios, nem habilitações, para escolher os concorrentes de sonho! Pouca inteligência. Nenhum pudor. Impacientes. Com muito físico e tatuagens...

 

Em pleno horário familiar, assisti ao debate para tentar justificar as agressões físicas entre o Zézé Camarinha e outro concorrente, com metade da sua idade! Em estúdio, os pais de uma concorrente estavam completamente indignados, por ela ter sido insultada verbalmente, mas perdoaram a agressão física por parte do seu namorado! Assisti à reacção de júbilo de uma mãe quando a filha resolve, à falta de argumentos, utilizar um palavrão indescritível! Eu ficava de castigo, depois de ficar com a marca da mão da minha mãe num dos lados da cara. Ou nos dois! Sem dúvida, exemplos a seguir.


in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)

2018/01/16

PERDIDOS EM ARRANHÓ


Arranhó. Freguesia do concelho de Arruda dos Vinhos com cerca de 2.300 habitantes. Tem património histórico e um museu dedicado à escritora e pedagoga Irene do Céu Vieira Lisboa. Em 2016 conseguiu notabilidade nacional graças à 78ª edição da Volta a Portugal em bicicleta.

Decorria a oitava etapa que ligou a Nazaré a Arruda dos Vinhos. A transmissão televisiva mostrava o pelotão perseguidor do grupo de fuga, com cerca de seis minutos de atraso, quando o comentador referiu a invulgar presença de várias viaturas automóveis, estacionadas à revelia, no percurso oficial da prova. O sinal de alerta. Havia algo de errado…

A cerca de 16 quilómetros do final da etapa, o pelotão seguiu por um trajecto errado. O engano surgiu perto de Arranhó, numa rotunda em que dezenas de ciclistas se equivocaram, seguindo pela esquerda ao invés de continuar em frente. Entretanto, o grupo de fuga – que cumpriu à risca as indicações do percurso – recebeu ordens para parar e aguardar pelos restantes ciclistas e explicações. O director da Volta, Joaquim Gomes, confessou-se incrédulo e surpreendido com o engano do pelotão que, com isto, realizou mais 4 quilómetros que os inicialmente previstos.

A etapa foi retomada aquando da chegada dos corredores ao local correcto. Os tempos de prova foram mantidos. Tratou-se de uma situação caricata que apenas vem reforçar um verdade assumida e incontornável: os Tugas têm sérias dificuldades em circular nas rotundas…

2018/01/04

PREPARADOS PARA A DESGRAÇA

Quero pensar que este trabalho vai ter, talvez, algum valor histórico. Um registo fidedigno das nossas atitudes e comportamentos perante as adversidades. Tal como Luís de Camões, quando à boleia de uma caravela, se furtou aos trabalhos náuticos em nome do livro que estava a escrever! Em finais de 2014, os Tugas ficaram a conhecer o vírus Ébola. De facto, algo bastante preocupante pelo seu grau de contágio e mortalidade. É algo sério e, certamente, não vou ironizar com esta tragédia. Quero deixar bem claro que os esforços desenvolvidos, por estas bandas, para enfrentar esta situação epidemiológica, deixaram-me extremamente orgulhoso! (Agora sim, estou a ironizar!). Surgiu em Espanha o primeiro caso europeu confirmado. Aumentou o nosso nível de insegurança...

 

A pergunta repetia-se, de boca em boca, estarão os hospitais preparados para lidar com o vírus?! E as instituições?! A resposta veio pelo director-geral da Saúde, Francisco George, que aos canais de televisão mostrou, para nossa tranquilidade, o “uniforme oficial” das equipas médicas preparadas para enfrentar o vírus. Ao contrário dos fatos de protecção vistos noutros países, foi mostrada uma panóplia de retalhos. Um hospital cedeu a enfermeira para servir de modelo fotográfico. Um pintor de automóveis emprestou o fato de protecção com máscara facial incluída. Um agente da polícia de intervenção emprestou a viseira. Estamos prontos para a desgraça! Perante a Comissão de Saúde, na Assembleia da República, criticou todos os que afirmaram que o país não estava preparado, sendo o controlo da contaminação o maior desafio. Realmente, com tudo isto, não há motivos de preocupação.


 

in "As Crónicas Tugas, tem de ser" (Chiado Editora, 2016)