2015/09/28

O FALSO DOENTE

É um dilema que teima em existir e para o qual parece não haver resposta, apesar da passagem dos anos. Os serviços de saúde excederam a sua capacidade de resposta, com os recursos disponíveis, para os casos concretos. Solicitam aos utentes que recorram a urgências somente em caso de extrema necessidade. Porém, existem campanhas de rastreio e aconselhamento às pessoas, de maior idade, para que realizem exames de rotina periódicos, mesmo com falta de capacidade do pessoal que trata da nossa saúde...

 

Como medida preventiva, devido à idade, Delfim Sousa, resolveu efectuar exames de rotina completos, numa clínica privada. Recebeu uma péssima notícia… O resultado da colonoscopia revelou a presença de um tumor no intestino. Apavorado, foi de imediato reencaminhado para o Hospital Amadora-Sintra, onde foi operado com carácter de urgência! Depois de doze dias de internamento, muito sofrimento e uma infecção urinária. O médico, entusiasmado, diz-lhe que tudo foi desnecessário! Porque, afinal, vai ter alta médica, para poder regressar a casa, porque não encontraram qualquer tumor! Porreiro, pá.


in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)

2015/09/21

ATÉ QUE A MULHER OS SEPARE

Ao longo dos anos fazemos muitos planos para o futuro. Tenho a certeza que nenhum deles está relacionado com a morte ou a nossa última morada! Porém, tudo pode ser planeado! Em Guimarães, Amâncio Silva, toma conta do seu próprio jazigo. Já pôs o seu nome e fotografia, apesar de ainda estar vivo, para espanto dos que lá passam. O idoso (actualmente separado, mas não oficialmente) desconfia da mulher e teme que ela o ponha noutro lado quando morrer. Assim, com a foto e o nome, toda a gente sabe que o local está escolhido e reservado...

 

Inicialmente queria comprar uma campa única, mas já só havia um jazigo duplo. Assim, o sepulcro do lado está destinado à restante família. Como se não bastasse, deixou em testamento a vontade de ficar no local, que por coincidência, é ao lado do seu antigo chefe, entretanto falecido: «Eu ajudava-o numa quinta que ele tinha, e ensinou-me tudo o que eu sei hoje». Até à mudança definitiva cuida meticulosamente do seu jazigo, mas nada de flores! Até lá, a campa vai sendo motivo de conversa entre os locais.


in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)

2015/09/04

MÉDICOS MISTÉRIO

Numa reportagem, emitida pela Sic, a repórter Dulce Salzedas lançou um ataque à classe médica e à sua especialidade em arranjar desculpas para trabalhar menos e receber mais! A questão será justa? Numa altura em que acusam o Tuga de ser malandro, de gostar mais dos feriados do que trabalhar, de não dar produtividade, aparecem alguns indivíduos (perdão, senhores doutores) que até conseguem estar em dois sítios, ao mesmo tempo, a tentar salvar vidas. Agora compreendo as longas filas de espera nos centros de saúde e hospitais. Com tanto trabalho, os pobrezinhos estão exaustos...

 

Acho que os senhores doutores (por extenso!) são um exemplo a seguir. Pensam que é fácil trabalhar em vários sítios ao mesmo tempo? E juntar dinheiro para cumprir os empréstimos para o modesto apartamento T1, ou até o veículo utilitário? Um salário não chega! Quantas vezes, eu próprio desejei, que estivesse alguém a trabalhar por mim. Trabalhar e de graça! A “pobre” classe médica revela que, apesar de mal remunerada, exagera na produtividade e no trabalho suplementar! E ainda há quem reclame.

in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)