2018/08/31

PONTO DE VIRAGEM

O nascimento conflituoso do Condado Portucalense vincou o nosso carácter pela audácia e coragem demonstrada perante as adversidades. A época dos descobrimentos é o exponente máximo! Intrépidos marinheiros conseguiram alterar o mapa mundial. Nas últimas décadas algo correu mal. Não consigo precisar qual o ponto de viragem (talvez se algum historiador estiver a ler consiga explicar) mas somos, agora, bastante diferentes dos nossos antepassados. Perdemos o espírito lutador! Exageramos nas desculpas…

No Brasil, teve lugar o mais recente episódio emblemático da nossa capacidade de atribuir as culpas. A selecção de futebol nacional, justificou a sua péssima prestação, no Campeonato do Mundo de Futebol, com o calor excessivo, falta de descanso e grandes deslocações. Tendo em conta que, tais fenómenos atingiram as restantes selecções e que os seus jogadores até se esforçaram, tal pretexto é irreflectido e caricato! 

Há seiscentos anos atrás, a frota de Pedro Álvares Cabral, demorou anos para conseguir realizar a viagem e ainda encontrou forças para desembrenhar as espadas e enfrentar os nativos. Com tanta destreza e vontade, nos dias de hoje, nem sequer os Açores conseguíamos descobrir. Pois para alguns, mais sensíveis, a água estaria muito fria.

2018/08/30

O GAJO ADORMECEU!

As grandes superfícies comerciais apostam em eventos, de carácter familiar, para atrair mais consumidores para os seus edifícios. O grande número de lojas e praças de alimentação sobrelotadas são insuficientes para justificar visitas regulares. As datas festivas são ocasiões fantásticas para aproveitar este espírito consumista. E de que maneira…

O Natal é o exponente máximo das festividades públicas. De tal maneira importante, pois, em pleno mês de Outubro já se encontra uma série de lojas com decoração alusiva. Tudo isto a pensar na carteira dos Tugas que, em Dezembro, anda um bocadinho mais bem composta. A estreia dos filmes de animação, o comboio turístico, a loja dos doces, o espectáculo no gelo (não interessa qual, desde que tenha gelo) e, principalmente, a chegada do Pai Natal. Que momento épico!

Tudo é pensado ao pormenor para que seja bem rentabilizado. O sacana do velho barbudo chega à hora de almoço e – como está cansado da viagem – ausenta-se para regressar, às três da tarde, para as fotografias. Os miúdos que (ainda) sentem a magia natalícia desconhecem a estratégia consumista que, também, os inclui. Contudo, há situações que não se podem prever ou controlar…

Em 2014, a petizada esperou num espaço apinhado. Ao fundo um trenó vazio. Duendes a dançar numa mistura psicadélica de fumo branco e música. O elenco da pista de gelo a socializar e posar para as fotografias. Todos gritam pelo Pai Natal. Ele não aparece! Os relógios indicam 45 minutos para além da hora prevista. Falta a personagem mais aguardada! Onde se meteu o Pai Natal?! Neste caso, o actor que lhe dá a vida? O tempo não pára e ninguém consegue disfarçar ou negar rumores de uma triste realidade: o gajo adormeceu!

2018/08/29

UM CANTEIRO DE QUATRO RODAS

Os leitores – que perdem o seu precioso tempo a ler os disparates que escrevo – podem ter opiniões diferentes quanto ao desfecho desta crónica. Porque uns apreciam a Natureza. Outros, nem por isso… Durante vários meses habituei-me a visitar o “Pulgas” – nome fictício – para um gatinho preto, sem dono, que tomava um canteiro como sua habitação. Recebia restos de comida e água fresca de alguém que ainda gosta dos animais. Bastante dócil, ocupava o seu tempo entre mimos das crianças e longas sonecas à sombra da árvore.

Mas a vida nas cidades é impiedosa! O aumento da população obriga a disponibilizar mais espaços para as viaturas. Estupidamente cortam-se as árvores! E assim, o “Pulgas” ficou sem sombra. O seu canteiro ficou reduzido a um pequeno resto de madeira e ervas daninhas. Alheio a todo este frenesim continuou por lá, a receber comida, carinhos e a ronronar de felicidade. A Natureza deixou de embelezar o canteiro daquela avenida. Os Tugas já podem cuidar dos seus afazeres sem obstruir o trânsito. Deixam as viaturas em qualquer sítio para poupar no esforço físico! Civismo?! Quem é esse “gajo”?! Graças a este espírito de desenrasque, muitas vezes, o “Pulgas” tem de se afastar para não ser atropelado por quatro rodas de uma qualquer carripana que insiste em subir o passeio para estacionar no canteiro. Porque, infelizmente, há gente para tudo. Os outros, claro.

2018/08/16

POBRE VAGABUNDO

Ao longe era bem perceptível um vulto deitado no jardim. À medida que a distância se encurtava foi possível observar um indivíduo, com aspecto menos cuidado, a ressonar bem alto, no meio do jardim da avenida. A relva húmida era um mero pormenor que, tendo em conta o ruído, não lhe perturbava o sono. Pelo contrário… Nestas situações a educação e caridade querem, de imediato, solicitar assistência médica. O senso-comum – impulsionado pelo aspecto do homem – quer ignorar e deixar o “gajo” para curar a ressaca. Debate interno inútil porque a chamada foi feita. A mota do INEM foi a primeira a chegar ao local. Primeiro com meiguice e depois com duas abanadelas conseguiu captar a atenção do dorminhoco. Uma única frase repetida: «deixem-me dormir!». Também saíram palavrões. Não vale a pena citar…

Os minutos passaram. Entretanto chegou a ambulância dos bombeiros. Receberam a indicação da pretensão do homem. Mesmo assim, foram dar umas quantas sacudidelas. A resposta foi a mesma. Regressaram para preencher a respectiva papelada. Nada mais havia a fazer! Levar alguém para o hospital só porque tem vontade em dormir. Quer no jardim? Assim seja! A polícia foi a última a chegar ao local (isto não é piada!). Dois agentes aproximaram-se, das equipas de socorro, e inteiraram-se da situação. Optaram, também, por abanar o pobre vagabundo. Fizeram-no com os pés (a autoridade tem uma maneira própria de agir). O desgraçado, que apenas queria dormir, farto de tanta agitação, levantou-se para mudar de rua e de jardim. Deixaram-no na paz dos anjos, na expectativa de ver o sistema de rega automático em funcionamento.


2018/08/15

HOSPITAL SEM LUZ

Os serviços informativos televisivos procuram que as suas equipas sejam as primeiras a transmitir as notícias de última hora. Contudo, na emoção do directo, nem todas seguem o código deontológico e, por vezes, a verdade altera-se enquanto os Tugas, do outro lado do ecrã, tentam entender o que raio se está a passar…

Em Matosinhos, uma falha de electricidade provocou o caos no Hospital Pedro Hispano. Em Outubro de 2014, ficou às escuras, durante alguns minutos, à excepção das Urgências. Tal anomalia deixou em pânico os utentes internados e em situações de emergência, bem como, os familiares. A preocupação imediata foi para a Unidade de Cuidados Intensivos, uma vez que depende de equipamento médico que funciona a electricidade. A transferência de pacientes chegou a ser equacionada. A equipa de reportagem do “Correio da Manhã” efectuou a cobertura desta notícia nas imediações do local. (não receberam autorização para entrar no recinto). Perante uma total falta de informação e com necessidade de ocupar o tempo de antena a repórter teve de inventar um bocadinho. Coisa pouca…

Quem acompanhou o directo foi informado que o Hospital esteve cerca de uma hora sem luz com os geradores a funcionar em pleno. Os doentes foram transferidos (para onde não interessa) mas ninguém viu qualquer ambulância a sair do parque. A equipa de manutenção vai terminar no desemprego apesar de ter sido atribuída a responsabilidade à empresa de fornecimento de energia. Afinal, somos uns privilegiados por ter acesso a este tipo de jornalismo de excelência. Alguém quer mais esclarecimentos?!