2022/02/18

O MAL DE TODOS OS PECADOS

Os números das audiências têm vindo a demostrar que há um crescente abandono dos telespectadores em relação às emissões regulares dos canais televisivos. A televisão por cabo é a nova tendência. Sem esquecer as redes sociais (onde os Tugas desperdiçam parte das suas vidas). Seguramente reconheço utilidade em certas publicações, no entanto, em certa altura algo parece ter corrido mal. Os sentimentos negativos tomaram posse dos teclados e qualquer publicação – para além de lida às avessas – é entendida como um ataque pessoal ou vista com desdém. É necessária precaução com aquilo que se quer dar a conhecer. Até porque, este software (do Diabo) acaba de arranjar uma nova polémica…

Uns meliantes amadores resolveram assaltar uma Caixa Multibanco na União de Freguesias de Vilar e Mosteiró (Vila Conde). Sem qualquer experiencia na arte do gamanço conseguiram rebentar com o equipamento. A população, que ficou sem possibilidades de levantar dinheiro, foi a única prejudicada neste acto criminal sem precedentes. As entidades competentes resolveram o assunto colocando novo aparelho. A polémica prende-se com o dia da inauguração. Não, não é engano! Houve um dia para a inauguração oficial da nova Caixa Multibanco! A cerimónia solene contou com a presença dos autarcas da Freguesia, Elisa Ferraz (Presidente da Câmara de Vila Conde) e Bruno Miguel Ávila (Padre) que benzeu a nova maquineta depois do discurso da autarca.

Sendo o dinheiro o mal de todos os pecados, este episódio peculiar, contribui para uma discussão intensa sobre os pecados mortais. Neste pequeno gesto – de propaganda eleitoral – encontramos a luxúria, orgulho (vaidade), a ira e até a inveja… demonstrada, sem qualquer réstia de dúvida, nos comentários da população de Arcos. Até porque, tiveram a colocação de uma caixa recentemente e nenhum dos membros do executivo ou da Igreja passou por lá! Afinal, nestas coisas do dinheiro, confirma-se que há uns mais beneficiados que outros…
 

2022/02/17

O AZAR ESCONDE-SE À ESPREITA

A bola de ginástica. Existe em qualquer ginásio, mas também é o equipamento perfeito para descobrir as propriedades dos polímeros elásticos e dar trambolhões enormes. Sendo considerada actividade física – e, como tal, cansa muito – prefiro centrar as minhas atenções não para o ginásio, mas para um jantar organizado por um grupo de amigos. Sentado à mesa sei o que devo fazer! (Isto é, se não tiver à frente um faqueiro completo como se vê nas revistas que mostram a vida dos vip’s). Tudo foi organizado ao pormenor e, apesar de não ser um jantar de gala, impunha-se alguma beleza e uma higiene pessoal mais cuidada. Com algum esforço consegui cumprir os requisitos mínimos (saltei a parte do espelho meu) e aguardei a boleia. À hora marcada, por incrível que pareça, eu e alguns amigos estávamos, todos janotas, a caminho do restaurante.

O azar esconde-se à espreita e conspira para tramar a vida dos Tugas! E assim foi… Durante a viagem um dos companheiros sentiu uma terrível dor de barriga. Estando no meio de nenhum foi impossível pensar em encontrar uma casa de banho e, uma vez que o chamamento era fortíssimo, não restou outra alternativa senão procurar um pequeno canto num terreno sombrio à face da estrada apenas iluminado pela luz da Lua. Ainda teve a sorte de haver alguém com lenços de papel… Depois de terminado – e com ar rejuvenescido – juntou-se ao grupo. Apenas teve tempo de reparar que tinha agarrado ao sapato o que deveria ter ficado na vegetação! Em pânico – e já sem lenços de papel – lembrou-se daquele ditado que diz: quando se alivia um Português, seguem logo dois ou três! E, por aquilo que vi, ele deve ter sido o terceiro…
 

2022/02/16

MADE IN CHINA

Há notícias que captam a nossa atenção e nos impelem a querer saber mais pormenores. Esta é uma delas! Especialmente dedicada a todos os Tugas do Norte (que estejam a ler esta crónica). Estando abrangido pela área geográfica, é claro que estou preocupado! Caros leitores, devem sair à rua com a cabeça bem levantada e os olhos postos no céu (esqueçam lá as moedas perdidas nos passeios). Muito cuidado com a Tiangong-1! Um pedaço de sucata, do tamanho de um autocarro, que vai despenhar-se no planeta Terra mas ainda não se sabe exactamente onde. Os peritos revelaram que Portugal está na rota de colisão dos destroços desta estação espacial chinesa e pode ser o feliz contemplado. Desde 1957 que a humanidade tem preenchido o espaço com lixo enviado do nosso planeta e, segundo a lei do retorno (ou karma) o entulho, mais cedo ou mais tarde, encontraria o caminho de volta. Como acontece aos inteligentes que cospem para o ar e ficam à espera…

A estação espacial foi lançada a 29 de Setembro de 2011 tentando impulsionar a China para os níveis de uma superpotência espacial. A Tiangong-1 (que significa “Palácio Celeste”) foi a primeira estação espacial chinesa a ser lançada no espaço. No entanto, no ano passado as autoridades chinesas alertaram que tinham perdido o controlo sobre o satélite. O que vem levantar a questão sobre a verdadeira qualidade do material “Made in China”. Por ser impossível controlar as comunicações o calhau metálico está, desde então, entregue às forças atmosféricas. Sei que os signos são diferentes na China mas pelo nosso calendário a Tiangong-1 é Balança: tinha tudo para correr mal. E mais não digo… A probabilidade de causar estragos é bastante diminuta, mas existe! Há registos fotográficos da passagem sobre a Alemanha e Espanha. Ou seja, parece ter vontade de conhecer a Europa antes de se despenhar. Toda a cautela é necessária! Até porque a China fez questão de recordar que a Tiangong-2 está lá, pelo espaço, desde 2016. Tal como acontece com as bugigangas electrónicas, os chineses ficam com os créditos da invenção enquanto nós, os europeus, temos de resolver os seus problemas quando “as coisas” não correm como planeado. E sem passar na alfândega!
 

2022/02/15

NÃO MORRER DA DOENÇA...

Apesar de ser o feliz proprietário de um apartamento – que será legitimamente meu quando eu já estiver quase senil, agarrado a uma bengala e com lapsos de memória – tento usufruir ao máximo dos dias que vou riscando no calendário. Mesmo com limitações de espaço, confesso ser um admirador da vida animal e, como tal, partilho a intimidade do meu lar com um peixinho encarnado. É sossegado, não suja a casa ou necessita que o leve à rua para deixar a sua marca… nos sapatos dos mais distraídos! Contudo, é um ser vivo e exige cuidados… A vaga de frio que tem atacado várias regiões do país e respectivas habitações (tem dias que sinto que estou trancado numa qualquer arca congeladora dum talho) obriga a cuidados redobrados com o aquecimento. A minha cozinha parece localizada em pleno Alasca! Chego a pensar na questão de alterar o registo da minha casa: uma parte em Matosinhos, a outra no Alasca. Pelo menos pouparia na questão do Imposto (IMI). E nem preciso de verificar qual a taxa aplicada lá! O pobre peixe também sofreu com o frio. O termómetro da água indicava 17ºC! Quase dez graus abaixo da temperatura ideal. Ou seja, o meu peixe corria risco de hipotermia! Ou congelado vivo! Seja como for, algo tinha de ser feito para evitar aquele cenário de terror no aquário de 5 lts. Imbuído no espírito de socorro, iniciei a minha jornada para salvar a vida do pobre guerreiro de água estagnada.

Descobri, nas lojas de especialidade, que a tendência actual é ter aquários de tamanho XXL. Ou seja, um parolo como eu – que tem um quadrado pequeno que o peixe quase nada com o rabo de fora – sente-se imediatamente envergonhado e sem encontrar aquilo que procura: uma resistência térmica para aquecer a água. A solução mais óbvia foi, certamente, recorrer à sapiência e qualidade das lojas chinesas. Comprei um aparelho destinado a aquários de 100 litros. Vinte vezes superior ao que necessitava. No entanto, senti que algo tinha de ser feito pelo peixe. Morrer enregelado não é digno! Se bem que assado, não parece melhor... Dois minutos depois de ligada e colocada na água, a resistência resolveu estourar! Dezenas de pedaços de vidro explodiram em redor do peixe que, alheio ao que se passava, continuava a passear. «Pronto! Foi desta que matei o peixe!» Foram as primeiras palavras que proferi! Também soltei uns palavrões mas, para manter a decência, prefiro não especificar… Asseguro que o peixe não morreu. Escusam alertar as autoridades competentes ou os serviços sociais. Apesar de toda a minha disponibilidade e boa vontade – e tremenda dose de aselhice – cheguei à conclusão que a solução foi mudá-lo de lugar. Geralmente a solução mais simples é a mais acertada. Vá se lá saber porquê, raramente se coloca em prática. Arrisco-me, sem dúvida, a dizer que o pobre não morreu da doença… mas, caramba, quase virava defunto com a cura!
 

2022/02/14

PARA A MINHA ESPOSA

Se escrever que estás casada com um escritor famoso, de certeza que vais soltar duas ou três gargalhadas. Sei que não o fazes com má intenção, mas porque sabes que a fama – estatuto tão procurado pelos mortais – é efémera, relativa e tão difícil de conseguir. Tenho dois mil amigos no Facebook e, certamente, mais de metade já seleccionou a opção “não seguir” em relação ao meu perfil. Não os censuro. Por vezes, nem eu próprio me aturo… Muitos dizem não saber o dia de amanhã. Confesso que fico preocupado com isto, acredita! Se me perguntarem (e sendo hoje Segunda-feira) vou responder que amanhã é Terça-feira! Isto é básico e está num rectângulo de papel, ao qual chamam calendário. Impossível é saber o que vai acontecer. Já muitos tentaram adivinhar, mas sem qualquer sucesso! (lembras-te do Zandinga e do Nhaga?!). Mas imagina que, por um acaso, consigo arranjar um conjunto de leitores – idêntico aos do José Sócrates – que façam disparar o volume de vendas superando o Pedro Chagas Freitas. Será que podes parar de rir?!

Escrevo esta carta para te informar que, se tal acontecer, sabes que vou ser assediado e perseguido por mulheres lindíssimas, estilo actrizes de cinema – e não pelas velhas decrépitas que me enviam mensagens nas redes sociais. Sei que não será pelos meus atributos físicos, porque já os tenho actualmente e ninguém me persegue. Esqueci-me das operadoras de call-center, mas será que as posso incluir na estatística?! Sei que estás comigo por amor e nada mais. Até porque tens conhecimento que o raio do extracto bancário vem sempre a vermelho e com vários avisos (nada simpáticos) do gestor de conta. O raio do homem farta-se de pedir dinheiro! Temos uma história de vida simples. Um conto de fadas de baixo orçamento. Restaurante de luxo – com um faqueiro completo em cima da mesa – não está no nosso horizonte. Para além de necessitar de um manual de instruções, teria de utilizar todo o meu plafond no cartão de crédito e, posteriormente, fraccionar o pagamento em vinte e quatro vezes! Sem juros! Também dizem que a comida gourmet não presta. Será preferível continuar a comprar frango assado no restaurante aqui perto…

Um homem não é de ferro e, sinceramente não me recordo do que fiz há nove anos atrás. É certo que nunca estive na América ou em discotecas tão bem frequentadas como aquela do Ronaldo. Lembro-me de ter estado em Tui para comprar rebuçados. Nada mais. Também sabes que a minha primeira noite, fora de casa, foi passada contigo. Para mim, foi inesquecível. Acordei sobressaltado, à procura do comando, para desligar o ar condicionado e ainda consegui bater com a cabeça na mesinha-de-cabeceira! No entanto, sabes que o estrelato atrai gente mal-intencionada e até são capazes de inventar relacionamentos que nunca tive! Razão pela qual escrevo este manifesto. Minha querida, podes ficar descansada. Jamais serás perseguida pelos órgãos de comunicação social (ou pelo Correio da Manhã) para entrevistas ou comentar escândalos do teu marido. Até porque, para tal acontecer, é necessário subir a escada do sucesso rumo ao estrelato. E eu tenho dias que nem os degraus da entrada do prédio consigo subir…
 

2022/02/11

DIALECTOS DA CARTEIRA

Música. Não é para qualquer um. Mas isso não impede que qualquer um tente realizar um dos sonhos mais pretendidos, ser cantor. Mas, antes de arriscar numa carreira será melhor procurar ajuda dos cantores mais experientes… Em Outubro de 2016, os habitantes de Terras Tugas (que assistiam ao programa do Manuel Luís Goucha) ficaram estupefactos com a actuação da Maria Leal. Nome desconhecido até então. O vídeo da sua actuação tornou-a num fenómeno da Internet, arrecadando mais de três milhões de visualizações no YouTube, em menos de um ano. O mesmo período que fez disparar a venda de aparelhos auditivos…

Dois anos depois, o canal televisivo Sic resolveu emitir um programa sobre a sua ascensão meteórica rumo ao estrelato, passando pela principal fonte de rendimento: o seu marido. Aliás, o foco do programa incide sobre ele. Francisco D’ Eça Leal, nascido vinte anos depois da cantora. Um jovem fragilizado com registos de esquizofrenia e com sérios riscos de ficar paraplégico, depois de se ter atirado de uma janela do Hospital Julio Matos. Herdeiro de uma fortuna avaliada em um milhão de euros viu a cantora entrar na sua vida com promessas de amor eterno com cartões de crédito! Em três anos, este amor tórrido fez desaparecer grande parte da herança. Francisco, que ainda continua oficialmente casado, viu desaparecer o seu grande amor, três imóveis e todo o dinheiro. Vive sozinho, com a ajuda da mãe e da Santa Casa da Misericórdia. O pobre Francisco ainda não tem a noção do que se passou. Parece um viajante do tempo que ainda não se apercebeu em que ano está! Diz acreditar na justiça. A mesma que não consegue intimar a cantora para se apresentar em tribunal por desconhecer o seu paradeiro. Bastava aceder à página do Facebook para descobrir quais as cidades que ela vai infernizar brevemente! A justiça tem limitações, temos de aceitar! Penso que o único interveniente feliz desta história é o dono da loja de artigos chineses, no qual, a cantora gastou mais de 1.500 euros! Penso que, com tanto dinheiro, o homem fechou a loja, rumou à China e reformou-se!

Os dialectos da carteira têm dias assim! O amor platónico pode ser mais curto que uma viagem de táxi. Não há limites para a ganância humana e, mesmo sem qualquer talento ou atributos físicos extraordinários, a sua carreira continua. Tem fãs espalhados por todo o nosso país. Conseguiu mediatismo à custa do oportunismo, falta de escrúpulos e herança choruda. Contudo, nesta parte final da crónica, ainda não decidi se devo culpar a atitude activa da cantora, ou a extrema passividade e ignorância do rapaz! De qualquer forma, a vida continua e um programa de televisão – que dignificou a imagem do Ribeiro Cristóvão – já não tem a capacidade de conseguir parar um país. A indignação é efémera e, certamente, muitos dos que estão a ler já se esqueceram do que viram. Abençoadas redes sociais e programas matinais! Volta Zé Cabra, que estás que perdoado…
 

2022/02/10

A VIDA EM MOVIMENTO

Metro do Porto. Um excelente meio de deslocação entre várias cidades com demasiadas pessoas e ainda mais viaturas. É o transporte público perfeito para estudar a relação entre movimento circular, a falta de discernimento e força humana, com uns galos e arranhões pelo caminho… Nos últimos tempos, o tipo de utilizadores deste transporte público tem vindo a mudar. Arrisco escrever que reflecte o estado (moribundo) da sociedade, com falta de valores, educação e, porque não, higiene! Sabemos que há composições que, em pleno dia, parecem uma lixeira a céu aberto! Garrafas, embalagens diversas, pacotes de bolachas, pastilhas elásticas, cigarros, jornais, etc. E, neste ponto, tenho de aplaudir o esforço dos mais habilidosos que procuram as junções dos bancos para colocar o próprio entulho. Seria bem mais prático (e razoável) utilizar o caixote do lixo nas estações. Sabem, é para isso que eles estão lá!

A empresa tem vindo a apostar na educação cívica dos utilizadores. Por incrível que pareça, ao fim de mais de uma década, ainda é necessário explicar às pessoas que querem entrar que devem aguardar pelas que pretendem sair. Foi adoptado um sistema de zebrado para libertar os espaços de circulação. O resultado, nas estações mais movimentadas, chega a ser caótico! Os mais renitentes – que entendem tudo ao contrário – ocupam o zebrado e provocam a confusão aquando da chegada do veículo. Fosse filmado a preto e branco e tínhamos um pequeno filme ao estilo Charlie Chaplin! Ficam estarrecidos com o som do fecho das portas! E se uns compreendem que há um tempo limite de espera nas estações (e aguardam poucos minutos pelo próximo), outros resolvem utilizar a prepotência e massa bruta para, num gesto animalesco, bloquear a porta. Não me recordo de outro tipo de transporte público que autorize esta proeza… Por vezes, o equipamento vence e lá fica uma mão trilhada. Quando isto acontece, aparece sempre uma reclamação. É a ironia desta vida: um prevaricador arranjar motivo para reclamar! Abençoado seja!

A compra de títulos de viagem é ritual que também, ao longo dos últimos anos, deixou de se praticar. Os renegados da sociedade (ou mitras) viajam constantemente sem título de transporte e, pasmem-se, ainda conseguem desdenhar das condições de viagem! Estão familiarizados com a rotina dos vigilantes e sabem que a justiça da Terra dos Tugas dá-lhes o estatuto de intocáveis! Arrisco dizer que, para eles, o crime compensa! Bem, esta viagem terminou. O tempo urge! Outra começa. São vários quilómetros percorridos nesta rotina diária… Termino a crónica, citando Stephen King: “O Inferno é uma repetição! Fazemos a mesma coisa vezes sem conta”. Sendo assim, lá vou eu para mais uma viagem…
 

2022/02/09

BRUXARIA E LOJAS CHINESAS

Os que seguem as minhas crónicas, certamente, já não se espantam com a minha capacidade de encontrar títulos sugestivos. Sabem até que, por vezes, vale mais que o próprio texto, mas se chegaram até esta linha – depois de ler o título – sem se benzerem, agradeço a coragem e garanto que podem ler o restante, sem qualquer tipo de risco para o físico ou para a carteira. Os habitantes de Terras Tugas acreditam na sorte. Basta ficar atento à quantidade de gente que anda, para aí, a esfregar raspadinhas! A sorte e o azar são excelentes desculpas para justificar aquilo que parece não ter razão óbvia de ser. Tendo em conta o número de especialistas africanos, com consultório cá, acredito que o oculto arranja muitos clientes! Recordo que esta é uma crónica de ficção, qualquer semelhança com situações da vida real terá sido meramente coincidência. Achei importante esclarecer este ponto… não vá o Diabo tecê-las!

Durante várias semanas, um grupo de alunos ensaiou uma peça de teatro. O dia da estreia tinha chegado! Tudo estava pronto, apesar dos nervos. Minutos antes da subida do pano – quando chegou perto das escadas de acesso ao palco – uma das actrizes sentiu-se mal e desmaiou. Em pânico, alertaram os professores e solicitaram auxílio médico. A notícia chegou aos restantes membros do elenco. Quando se aproximaram, uma outra actriz sofreu o mesmo sintoma. Pumba! Caiu para o lado! Ao verificar tamanho aparato – e cenário de guerra, com duas vítimas no chão – uma das professoras mais velhas, deu azo aos seus conhecimentos místicos e, sem qualquer sombra de dúvida, diagnosticou o Mafarrico como o principal culpado da situação. Coisa ruim pairava no ar… Para tratar da saúde ao espírito maligno que andava a fazer das suas – estilo Fantasma da Opera – foi comprar velinhas para purificar o ambiente. Não havendo lojas de especialidade em artigos de mau-olhado, aviou-se na loja do chinês perto da escola. Pelo menos, não gastou muito dinheiro… Regressou à escola ao mesmo tempo que a ambulância. Determinada, acendeu as velas aromáticas enquanto os paramédicos tratavam as duas pacientes e restantes reclamações pelo tremendo pivete emanado pelas velas. As miúdas recuperaram os sentidos e, felizmente, nada de grave se passou. Talvez um ataque de ansiedade causado pela estreia da peça. No entanto, ainda hoje se debate quem salvou a situação: a ciência ou o misticismo.

Caro leitor, não pretendo fazer qualquer juízo de valor em relação a este debate! É uma decisão pessoal e cada um tem a liberdade de escolher o que mais lhe convém! Tal como os fanáticos da raspadinha! Contudo, seja qual for a vossa escolha, tenham em conta que devemos trabalhar com a dignidade que a situação nos impõe. Afinal, a luta entre o bem e o mal dura há imensos séculos e, com certeza, nenhuma força demoníaca gosta de ser enfrentada com recurso a material manhoso das lojas chinesas! Chega a ser desprestigiante! É ter isso em atenção! Afinal, dizem que o Inferno é mau, mas como isto está, qualquer dia, por cá será bem pior…
 

2022/02/08

FERIMENTOS LIGEIROS

Admiro o jornalismo sensacionalista como qualquer outra pessoa. O repórter em cima do acontecimento! Isto claro, se o acontecimento deixar e o repórter não pesar muito! Chamem-me antiquado, mas sou dos que prefere tratar as notícias com alguma distância temporal. Tem as suas vantagens: permite recordar algo já esquecido e, por vezes, com pormenores que não foram divulgados à custa da pressa informativa. No caso das peripécias que escolho e abordo, a estupidez não se perde… Em Dezembro de 2016, três rapazolas resolveram brincar aos filmes de acção que se fazem por Hollywood. Pela calada da noite, furtaram uma viatura e dirigiram-se ao centro da Senhora da Hora para assaltar o moedeiro de uma estação do Metro – reparem na grandeza do plano de ataque: assaltar moedas! Como as pessoas passam a vida nas redes sociais e a televisão já não transmite formigueiro a partir das duas da manhã, o barulho que os gatunos fizeram não passou despercebido. As autoridades foram alertadas e, rapidamente chegaram ao local. Teve início uma perseguição automóvel (tal como nos filmes) que acabou em despiste para o grupo de malfeitores. Com a aproximação dos agentes da autoridade – e para evitar a detenção – resolveram recorrer ao mais moderno equipamento bélico para dissuadir polícias: pedras!

Para por um fim a esta sequência de “toca e foge”, enquanto decorria a chuva de calhaus, um agente da autoridade efectuou um disparo (com arma verdadeira). Desconheço para que parte do corpo fez pontaria, mas o destino da bala foi… a nádega direita do assaltante! Depois disto – e perante tamanho choque com a realidade – interrompeu o arremesso das pedras e ficou deitado, no campo de cultivo, a aguardar (com dores) a chegada das equipas de socorro. Foi transportado para o Hospital Pedro Hispano. Estava consciente e foi considerado “ferido ligeiro”! Deixo um pequeno, mas importante aviso aos que pensam dedicar esforços ao mundo do crime e, quem sabe, protagonizar a sequela deste assalto: sujeitar e vulgarizar o rabo por um punhado de moedas, é coisa para estragar a reputação a qualquer criminoso. É ter isso em conta…
 

2022/02/07

O ESTADO DA NAÇÃO

Os habitantes de Terras Tugas são conhecidos pela hospitalidade e capacidade de mobilização para ajudar alguém em apuros. As pessoas emocionam-se e, de coração aberto, abrem os cordões à bolsa para contribuir conforme podem. Acreditam cegamente nas intenções e oferecem sem fazer perguntas. Tanta ingenuidade tem vindo a captar as atenções dos que recorrem a esquemas para extorquir dinheiro. Os «vigaristas plenus» conseguem inventar desculpas para que os «parolos maximus» dispensem o dinheirinho que tanto custou a ganhar! A fraca (ou nenhuma) resposta das autoridades ajuda a que mais vigaristas apareçam. Porque resulta! E vergonha… parece ser apenas um adjectivo! Como tal, confesso que foi sem qualquer espanto que recebi a notícia (publicada na revista Visão) que mais de meio milhão de euros foi desviado do fundo de ajuda às vítimas de Pedrogão Grande. Há enorme indignação porque foram reconstruídas casas devolutas (que não foram afectadas pelo incêndio) e até – pasmem-se – ruínas! Recorrendo a esquemas manhosos (com ajuda de gralhas nos requisitos da instituição responsável), sete casinhas ficaram impecáveis… e de graça! Enquanto as verdadeiras vítimas assistiram impotentes a tudo isto…

Graças a uma investigação jornalística – melhor informada que as próprias autoridades – muita gente ficou nervosa e em sobressalto. Contudo, este sentimento de culpa vai desvanecer nos próximos dias. O estado da nação não permite que alguém, capaz dum esquema destes, seja condenado ou preso. Aliás, a cadeia serve apenas para os criminosos mais rascas da sociedade. Cometeram crimes sem imaginação ou valor significativo e foram castigados por isso. Fosse o crime grandioso e a conversa seria outra! Basta ver os nomes importantes que (ainda) estão em lista de espera… Há muitas outras situações em que o “chico-espertismo” se sobrepõe às leis. Inclusive, o exemplo vem dos próprios deputados e respectivas maroscas com a morada de residência para conseguir mais uns trocos com ajudas de custo. Compreende-se, o salário deles é baixo! Sabemos que há pessoas a morar em casas camarárias (com um aluguer simbólico) quando o parque automóvel está repleto de viaturas de gama média-alta. Podia continuar com mais situações, mas penso que já perceberam que tudo se resume a uma frase: anda meio mundo a enganar a outra metade. Ou pelo evoluir dos tempos, em breve, não haverá ninguém para enganar…
 

2022/02/03

O DESPERTAR DOS EGOS

Certamente que a ilustre pessoa que está a ler esta crónica já se viu envolvida num evento que tinha tudo para correr bem mas, por alguma razão, revelou-se o oposto do que deveria ter sido. Se nunca passou por isto fica o alerta: é aguardar! Uma agência imobiliária resolveu convidar alguns dos delegados comerciais para uma reunião informal de trabalho. Fortalecer a amizade entre colaboradores, partilhar experiências laborais e, porque não, descobrir alguns truques para melhorar a quota de vendas. Serão vespertino abrilhantado com música ao vivo e petiscos. As pessoas chegaram a conta-gotas. Os mais tímidos resguardaram-se num canto do edifício em busca de caras familiares. Naquele espaço todos representam a mesma função: vender imóveis. Imbuídos no espírito de celebração e bem-dispostos tomaram os seus lugares. O director da Zona Norte saudou os presentes e, numa apresentação improvisada, convidou alguns delegados a partilhar os hábitos, tácticas de venda e segredos! Com recurso a relatos verídicos, falsa modéstia e demasiado exagero estatístico, o principal delegado abriu as hostes. O despertar dos egos não demorou...

Em poucos minutos todos queriam explicar proezas e números! E, nesta situação, surge sempre um Tuga que ignora o tempo disponível. Monopoliza o dele e, como se não bastasse, ainda interrompe os demais colegas para entrar em debates ideológicos fúteis. É neste ponto que o evento começa a correr mal. A conversa resume-se ao convencido e aos que querem dar nas vistas. O relógio parece ter parado para os restantes. Recusam intervir na reunião. Verificam-se abandonos prematuros e promessas de não regressar no próximo ano! Porque há coisas marcadas para esse dia. Mesmo que (ainda) não se saiba qual é…
 

2022/02/02

SENTIDO, DIRECTION

É conhecido o fascínio das crianças pelos veículos amarelos que se deslocam sobre carris e atravessam a malha urbana da área metropolitana do Porto. Confesso que não imaginava que tivesse o mesmo efeito nos adultos com aspirações governamentais! Existe, de facto, uma enorme atracção política pelo Metro do Porto. No passado foram conquistadas vitórias eleitorais com este transporte público. É pouco relevante se as promessas foram cumpridas. Serviu os propósitos: eleger alguém durante quatro anos. Depois, logo se vê! Assim vai a honestidade politiqueira Tuga! O governo anunciou com pompa e circunstância – numa cerimónia que não olhou a despesas – a expansão da rede em cerca de seis quilómetros. Esperavam mais?! Vá lá, não sejam ingratos! Apesar da campanha eleitoral (para as autárquicas) não ter começado, os candidatos – que já se deram a conhecer – desdobram-se em acções de manifesto e indignação pela exclusão. Matosinhos é um dos concelhos que mais barulho tem feito. Não faltam sugestões de locais! E é neste ponto, caros leitores, que fico um pouco confuso com a atitude e vontade das pessoas e pelas intenções dos que vão participar nas eleições! Mas então, já gostam do Metro?!

Onde estão as vozes dos que queriam a Rua Brito Capelo devolvida aos peões? Onde estão as vozes dos que criticam o traçado, velocidade e respectivo acumular do trânsito automóvel? Onde estão as vozes dos que se queixam da falta de manutenção e viagens suprimidas? Onde estão as vozes dos que reclamam da insegurança e vandalismo? Calaram-se? Assisti à degradação social e económica de Matosinhos (minha terra Natal) nos últimos dez anos. A famigerada crise, que fez acentuar as dificuldades económicas, obrigou a empresa a reduzir despesas de operação e fiscalização. A mesma crise que criou uma nova classe social que cria putos ranhosos para viver de subsídios e insiste em andar de graça. A tão desejada mobilidade, aliada à falta de educação e escrúpulos, tem vindo a mudar o panorama desta cidade (e acreditem, eu percebo alguma coisa de transportar “mitras”). O desaparecimento misterioso das forças de autoridade também não ajuda. Em pleno reinado anárquico tudo é permitido! As peripécias sucedem-se. Não há lojas de referência nas principais artérias comerciais. O estacionamento é caótico. E tanto mais há por dizer e, acima de tudo, resolver. Porém, nesta altura do campeonato, os que competem, querem discutir o que não merece discussão...
 

2022/02/01

QUO VADIS, MATOSINHOS?

Desenganem-se os que pensam que quero abordar a temática religiosa desta expressão latina que significa “para onde vais”. A nossa cronologia tem revelado uma terrível desavença entre o humor e religião. A minha atenção está vocacionada para outro tema problemático e deveras importante para esta belíssima cidade de horizonte e mar: a política! Nas eleições autárquicas de 2017, todos os Matosinhenses foram chamados a exercer o seu direito de voto, sendo ele consciente ou não. Alguns, mais cépticos, encontraram pretextos para não aparecer e contribuir para uma vitória esmagadora da abstenção. É a ironia dos Tugas: celebrar a queda do fascismo, festejar a conquista do direito ao voto e, depois, desprezar tudo isso. É o que temos… A situação económica, social, financeira – ou outra qualquer que queiram ver aqui escarrapachada – não é das mais aconselhadas em Matosinhos. Há dificuldades e falta de verbas, sabemos disso. E, como tal, a herança política é bastante pesada para quem for escolhido a tomar as rédeas do concelho. Um presente envenenado e mesmo assim – num tremendo acto fulminante de coragem e destreza – surgiram candidatos, candidaturas e manobras de bastidores infelizes. Deixo os pormenores sórdidos para os especialistas na matéria. Eu, seguramente, não o sou!

Considerando a óptica de cidadão eleitor posso afirmar que, tendo em conta o actual panorama, estou tentado a não sair do sofá no dia das eleições. Lamento profundamente as traições, divisões e falta de ética de alguns intervenientes, independentemente das suas cores partidárias. As forças de campanha teimaram em desenvolver todos os esforços (possíveis e impossíveis) para conseguir angariar mais um voto. Até porque, tendo em conta o nível de envelhecimento do povo matosinhense, daqui a quatro anos muitos deles já não estarão cá para votar. É aproveitar agora! Na qualidade de “filho da liberdade” (porque nasci depois de Abril ’74) vou aguardar, com expectativa, a entrega dos galhardetes, sacas de plástico, aventais, canetas e demais bugigangas chinesas. Depois, logo se vê…