2022/02/09

BRUXARIA E LOJAS CHINESAS

Os que seguem as minhas crónicas, certamente, já não se espantam com a minha capacidade de encontrar títulos sugestivos. Sabem até que, por vezes, vale mais que o próprio texto, mas se chegaram até esta linha – depois de ler o título – sem se benzerem, agradeço a coragem e garanto que podem ler o restante, sem qualquer tipo de risco para o físico ou para a carteira. Os habitantes de Terras Tugas acreditam na sorte. Basta ficar atento à quantidade de gente que anda, para aí, a esfregar raspadinhas! A sorte e o azar são excelentes desculpas para justificar aquilo que parece não ter razão óbvia de ser. Tendo em conta o número de especialistas africanos, com consultório cá, acredito que o oculto arranja muitos clientes! Recordo que esta é uma crónica de ficção, qualquer semelhança com situações da vida real terá sido meramente coincidência. Achei importante esclarecer este ponto… não vá o Diabo tecê-las!

Durante várias semanas, um grupo de alunos ensaiou uma peça de teatro. O dia da estreia tinha chegado! Tudo estava pronto, apesar dos nervos. Minutos antes da subida do pano – quando chegou perto das escadas de acesso ao palco – uma das actrizes sentiu-se mal e desmaiou. Em pânico, alertaram os professores e solicitaram auxílio médico. A notícia chegou aos restantes membros do elenco. Quando se aproximaram, uma outra actriz sofreu o mesmo sintoma. Pumba! Caiu para o lado! Ao verificar tamanho aparato – e cenário de guerra, com duas vítimas no chão – uma das professoras mais velhas, deu azo aos seus conhecimentos místicos e, sem qualquer sombra de dúvida, diagnosticou o Mafarrico como o principal culpado da situação. Coisa ruim pairava no ar… Para tratar da saúde ao espírito maligno que andava a fazer das suas – estilo Fantasma da Opera – foi comprar velinhas para purificar o ambiente. Não havendo lojas de especialidade em artigos de mau-olhado, aviou-se na loja do chinês perto da escola. Pelo menos, não gastou muito dinheiro… Regressou à escola ao mesmo tempo que a ambulância. Determinada, acendeu as velas aromáticas enquanto os paramédicos tratavam as duas pacientes e restantes reclamações pelo tremendo pivete emanado pelas velas. As miúdas recuperaram os sentidos e, felizmente, nada de grave se passou. Talvez um ataque de ansiedade causado pela estreia da peça. No entanto, ainda hoje se debate quem salvou a situação: a ciência ou o misticismo.

Caro leitor, não pretendo fazer qualquer juízo de valor em relação a este debate! É uma decisão pessoal e cada um tem a liberdade de escolher o que mais lhe convém! Tal como os fanáticos da raspadinha! Contudo, seja qual for a vossa escolha, tenham em conta que devemos trabalhar com a dignidade que a situação nos impõe. Afinal, a luta entre o bem e o mal dura há imensos séculos e, com certeza, nenhuma força demoníaca gosta de ser enfrentada com recurso a material manhoso das lojas chinesas! Chega a ser desprestigiante! É ter isso em atenção! Afinal, dizem que o Inferno é mau, mas como isto está, qualquer dia, por cá será bem pior…
 

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