2016/07/29

CASTELOS CHINESES

Em 2004, o futebol conseguiu reacender a paixão de um povo pelos seus símbolos: bandeira e hino! Graças ao apelo de Luís Filipe Scolari, a nação mobilizou-se e acreditou, sempre, no tão desejado título europeu. Todos acreditamos! Menos a Grécia. Os chineses, também acreditaram! Não na qualidade da selecção, mas na quantidade de dinheiro! Tamanha maluqueira por bandeiras e bandeirinhas justificou o investimento! E como tempo é dinheiro, fabricaram, com urgência, as tão desejadas bandeiras portuguesas... 

 

Rapidamente, o Tuga invadiu as lojas chinesas para satisfazer, orgulhosamente, o pedido do seleccionador nacional, a um preço modesto, conforme é hábito nas referidas lojas! Com a pressa (e falta de conhecimento!) poucos repararam no ultraje dos nossos símbolos nacionais, aliás, punível com pena de prisão e multa! Em vez dos castelos, a bandeira nacional, tinha pagodes! São torres aparentemente sobrepostas, com múltiplas beiradas, muito comuns na China! O que prova que poucos conhecem os símbolos nacionais! Em 2013, em plena Sede do Conselho Europeu, alguém resolveu hastear a bandeira versão chinesa. Só deputados comunistas repararam.


in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)

2016/07/22

UNIFORMES AO BARULHO

Depois de escrever sobre tantos relatos peculiares, deste cantinho à beira-mar, tenho de admitir que ainda surgem algumas situações que me fazem duvidar da capacidade de discernimento Tuga. Uma ambulância do INEM (Instituto Nacional Emergência Médica) foi accionada para transferir uma doente, com enfarte agudo do miocárdio, do Hospital Caldas Rainha para o Hospital Santa Maria, em Lisboa. Durante a viagem, na auto-estrada A8 (Leiria a Lisboa) a senhora, de 80 anos, acabou por falecer, tendo o óbito sido declarado pela equipa médica. Segundo a legislação, a ambulância está proibida de transportar cadáveres. A tripulação aguardou a chegada das autoridades para que fosse efectuada a remoção do corpo...

 

Quando a Brigada de Trânsito chegou – e para espanto de toda a equipa dos Bombeiros Voluntários de Óbidos – multou o condutor por infringir o Código da Estrada e pôr em risco a circulação. Segundo o comandante dos Bombeiros, Carlos Silva, a viatura estava parada na berma. Devidamente sinalizada. Algo que a polícia resolveu ignorar, como prova a multa de 120,00 euros aplicada à corporação e ao condutor. Entretanto, num comunicado oficial sobre a situação, a G.N.R. esclarece que o expediente vai ser arquivado, por se ter verificado não existir infracção. A multa será arquivada. Mais um episódio caricato, que acontece num país pequeno, com muitas regras e demasiados egos.

in "As Crónicas Tugas, tem de ser" (Chiado Editora, 2016)

2016/07/15

UM OUTRO MELHOR BONJOUR

Começo com uma declaração de interesse: sou português! E é com um especial sentimento de felicidade que escrevo esta crónica. Depois de tantos relatos peculiares – de um povo que insiste em fazer tudo ao contrário – congratulo-me por escrever sobre um grande feito (até parece que alguém na Selecção Nacional leu o livro que escrevi).

Ao contrário de muitos profetas, bruxos de última hora e alguns “vira-casacas” confesso que nunca admiti a nossa candidatura à vitória neste torneio de futebol (Euro ’16). Como tal, aqui e agora, penitencio-me. O futebol é irracional, imprevisível e tudo aquilo que lhe queiram chamar. Mais do que nunca 11 milhões de pessoas mostraram orgulho no seu país!

O mundo adormeceu com as imagens, cores e sons dos festejos nacionais. Os Tugas libertaram-se da maldita pequenez e inferioridade gritando, bem alto, “campeões”! Provavelmente, os franceses – que nos têm acolhido e dado emprego há tantas décadas – nunca esperaram este desfecho. Espero que o saibam aceitar. Sem represálias. Sem mau perder. Já bastou ver os seus jogadores arremessarem as medalhas. E, nas ruas de Paris, ver a circular (antes do jogo) um autocarro alegórico francês. Nas próximas semanas ouvir-se-á, um outro melhor “bonjour”. Habituem-se!

Uma palavra para o “special one” José Mourinho. Em tempos, numa entrevista, revelou ter como terceiro objectivo na sua carreira: «dar ao seu país um título de campeão que ainda ninguém deu». Definiu 2018 como sendo a altura ideal. O Fernando Santos (novo herói nacional) não quis esperar. Para ele, para os jogadores, para toda a equipa técnica e para todos os atletas de outras modalidades (não os podemos esquecer!) que elevam o esplendor de Portugal: um enorme obrigado!