2022/01/28

A CAIXA QUE MUDOU O MUNDO

Nos últimos dias fui atacado por um sentimento nostálgico. A minha memória resolveu abrir a gaveta das recordações e trouxe-me imagens dos serviços noticiosos televisivos de 1991 (a bem dizer, só havia um!). O mundo assistiu estupefacto à Guerra no Golfo. Metade das pessoas nunca tinha ouvido falar no Kuwait e, pela primeira vez, tiveram a possibilidade de assistir a uma guerra em directo! Sim, muitos podem criticar que o cenário era sempre o mesmo e que os mísseis eram disparados sempre no mesmo sentido mas, naquela altura, todos queriam saber os relatos do repórter – algures no deserto da Arábia Saudita – Artur Albarran! Os anos passaram. O jornalismo e as mentalidades modificaram-se. Actualmente há mais probabilidades de assistir a directos televisivos que a filmes ou a telenovelas! Até parece que virou moda! Qualquer acontecimento (ou fofoquice) tem direito a emissão especial, com duas pessoas no local: uma a segurar a câmara de filmar, a outra com um microfone a relatar o que se passa! Mesmo que, por vezes, dê a ligeira sensação de não saber o que está lá a fazer…

A incessante demanda pela verdade e informação implica encontrar revelações bombásticas e em primeira mão. E, como tal, alguns canais de televisão massacram (literalmente) todos os que encontram pela frente, com perguntas descabidas e sem qualquer fundamento. Tudo na emoção do momento e com o objectivo de tentar escalpelizar uma notícia que já deixou de o ser. Com esta ideia em mente – e sabendo que demasiada informação revela trapalhadas e falhas institucionais – comecei a visualizar os sucessivos briefing’s (que chique em estrangeiro!) da nossa Protecção Civil. Estes encontros informativos, com a imprensa nacional para dar conhecimento do que se passa no “teatro de operações”, segue o mesmo princípio da guerra em directo… há 27 anos atrás! Os espectadores ficam agarrados ao ecrã para saber o que se passa com os incêndios! Alguns, de tão perto que estavam da televisão, ficaram com queimaduras! Dada a duração do directo televisivo já não fazem mais nada! Porque é importante saber se já evacuaram a parvónia com três habitantes e sem estradas de alcatrão; se o agente da polícia (a conduzir uma velhinha Yamaha DT) conseguiu avisar todos os habitantes (os três) e se o Ti Manel (que nem médico de família tem) viu passar algum bombeiro!

Em 2017, o nosso Presidente da República deslocou-se de imediato a Pedrogão Grande. O Primeiro-ministro – para não ser repreendido – fez o mesmo. Juntaram-se mais políticos, no centro operacional, que bombeiros! Este ano, perante uma tragédia florestal grave, os políticos resolveram esperar que tido estivesse resolvido. Os afectos (beijinhos e abraços) às vítimas dos incêndios foram mais comedidos. É bem feito! Alguns até nem foram votar! E não digam que foi por falta de transporte! Andar a pé, mesmo sendo 15 ou mais quilómetros, significa fazer exercício físico e os médicos recomendam! Podia escrever mais sobre este tema, mas entretanto começou um novo directo televisivo e eu quero mesmo saber o que se passa! Como está o incêndio e quantas frentes activas tem; quantos homens e viaturas estão no terreno e se há aviões a despejar água. Segundo dizem, não há dinheiro para espuma ou outros meios mais eficazes! Daqui a pouco, vou ouvir especialistas a dissertar sobre o que deve ser corrigido. Não vou conseguir escutar todos… porra, são tantos!
 

2022/01/27

O NOVO COMUNISMO

A tecnologia e inovação fartam-se de criar bugigangas e maquinetas para melhorar a nossa qualidade de vida, conforto e segurança. A indústria automóvel é o grande exemplo deste esforço. Longe vão os tempos em que um carro era construído à mão durante uma semana e de forma anárquica. No entanto, ao consultar a história é possível verificar que não foi assim há tanto tempo! E, ao contrário do século passado – em que nas nossas estradas passava um carro a cada três horas – actualmente arrisco dizer que há mais carros que pessoas! As próprias empresas de crédito permitem acesso fácil ao endividamento. Mesmo que a duração do empréstimo seja maior que a duração do carro! Este consumismo desenfreado afecta a economia nacional e há forças políticas que reprovam tamanho desperdício de dinheiro: os comunistas! O mundo está em constante mudança e já ninguém acredita no mito que envolvia os comunistas e as criancinhas ao pequeno-almoço. Perderam a força de outrora e vão resistindo apenas em alguns países mais teimosos. Por cá conseguiram integrar o governo por via de um acordo entre partidos que conseguiu subverter o sentido de voto dos Tugas. Afinal, quem ganhou as eleições ficou de fora!

Este acordo – a geringonça – verificou-se, de igual modo, em algumas câmaras municipais. Em nome da estabilidade democrática, membros do partido comunista aceitaram abdicar dos seus princípios e estatutos para servir de muleta governativa e, desta forma, conseguir emprego durante quatro anos. Que fique claro: nada me move contra os apoiantes desta ideologia política! Os ideais adaptam-se às novas necessidades. Já é possível encontrar Coca-Cola e McDonald’s na Rússia! Os Chineses, que tanto defendem as suas marcas nacionais, começam a comprar viaturas germânicas quando chegam à Europa. E, como tal, não me admira que alguns deputados, vereadores e outros eleitos pelo partido comunista – que educa os seus membros e orienta a sua actividade no espírito da fidelidade à causa da classe operária, dos trabalhadores e do povo português e à defesa dos interesses nacionais – se sintam na necessidade de adquirir (pago pelos nossos impostos) viaturas topo de gama de valor superior a 65.000,00 euros. Avante, camaradas! Porque, certamente, ninguém está à espera de um acto revolucionário para ter o prazer de conduzir a tecnologia patente num “Lada”, “Zastava Koral” ou “Moskvitch 412”. É preciso não esmorecer e continuar a lutar contra a exploração e opressão capitalista! Mas, com as devidas condições.
 

2022/01/26

ESPERANÇA E COTOVELITE

A revolução cultural causada com o aparecimento da televisão foi totalmente ultrapassada com as novas tecnologias. O acesso fácil à Internet e redes sociais são o chamariz perfeito para partilha de informação, projecto ou talento mais escondido. Os Tugas soltaram as amarras e – tal como nos Descobrimentos – partiram nas caravelas “YouTube” e “Facebook” à conquista do mundo virtual. As benesses da tecnologia informática inexistentes no século passado (Eça de Queirós, Florbela Espanca e outros não tinham Facebook ou blogues) permitiram renovar a esperança da realização dos sonhos. Escritores, cantores, bailarinos e outros têm uma panóplia de ferramentas e oportunidades nunca vistas. Sem nada a perder – e com elevada dose de ingenuidade – começaram a divulgar os seus trabalhos nas redes sociais. Confesso que entrei neste barco em 2013, de olhos fechados, cheio de esperança, rumo ao incerto… Se alguns desistiram, outros cederam ao canto das primeiras sereias: as que prometeram ajudar. Escutando apenas o coração alinharam no jogo mesmo sabendo que os dados estão viciados. Porque nada consegue suplantar a alegria e júbilo de ter, na nossa mão, o tão desejado livro ou álbum musical em nome próprio! Quase como um propósito da nossa existência. A (falsa) sensação de imortalidade! O desejo de reconhecimento e divulgação ficam em modo histérico! Surge a vontade de estar em todo o lado para se dar a conhecer. Contudo, no meio de tanta destreza, vai-se ganhando consciência das dificuldades, da solidão, da falta de apoio e que o mercado está repleto de “novos artistas”. Arrisco a dizer – num choque abrupto com a realidade – mais oferta que procura. E, de repente, estamos à deriva…

Mas há aqueles que conseguiram vencer o Adamastor e chegaram, com sucesso, a bom-porto. Aqueles que conseguiram atingir o sucesso e, fruto disso, continuam a esgotar salas de espectáculo sabendo que todos os trabalhos (bons ou maus) que venham a desenvolver à posterior serão bem aceites. Importa dizer que estão inseridos numa comunidade fechada que não gosta de forasteiros. Os media dão cobertura sempre os mesmos… Esta “Geração Facebook” mede o sucesso em termos de “gostos” e número de seguidores. Quando a “coisa” corre mal não há qualquer problema em comprar alguns seguidores virtuais. Essa opção existe! Não há uma fórmula escrita para o sucesso. Por vezes é fruto de uma mera coincidência ou obra do acaso. É algo alheio à vontade e esforço do autor. A editora, os amigos e outros utilizadores deste software do Demónio, têm um papel importante na partilha e recomendação. Aliás, como amigos, devem estar presentes e apoiar incondicionalmente. Porém, entre agendas preenchidas e demasiada “cotovelite” ganham as cadeiras vazias. Caro leitor, tendo em conta tudo o que escrevi e tendo feito uma profunda análise da minha odisseia literária, que teve início em 2014, posso afirmar que ainda não consegui vencer o Adamastor…
 

2022/01/25

ESTRANHA FORMA DE VIDA

Rosto marcado pelo cansaço de uma vida árdua, cabelo branco curto com bigode farfalhudo da mesma cor e com uma simples camisa de ganga há muito zangada com o ferro de engomar. É assim que Dionísio surge no ecrã, durante o serviço noticioso do “Correio da Manhã”, para explicar como outra pessoa levou uma facada por ele… No final de jantar – para fazer a digestão – deslocou-se à garagem. Foi quando avistou o Almerindo da Silva. De imediato começaram a trocar insultos! Uma pequena nota de introdução: decorre um processo judicial, entre eles, pois não é a primeira vez que “esta pessoa” o assassina! Segundo o entrevistado, o juiz não avançou com a condenação por falta de “alimentos legais”. Porque o magistrado não tem dúvidas quanto às intenções maléficas por parte do arguido que, num gesto de provocação, insiste em abrir e fechar brutalmente as persianas às 5 e 6 da manhã. Até usou aquele ditado do cântaro que vai à fonte. Por coincidência, o malvado, adoeceu no próprio dia do julgamento...

Enquanto decorria a sessão de insultos gratuitos, entre os dois, um vizinho (a garagem é muito agitada!) resolveu intervir para acalmar e impedir que perdessem a cabeça. Tal gesto heróico valeu-lhe uma facada! O Dionísio não sabe se foi uma, duas ou três. Confirma que – o outro – ficou a escorrer sangue de um ataque que tinha o seu nome escrito. Apresentou queixa na polícia! Esteve toda a manhã na esquadra e recebeu um papel que, ainda hoje, não tem coragem de ler… Uma zanga sem motivo; um herói ocasional mal tratado; uma agressão bárbara por alguém que tem idade para ter juízo. No entanto, a simplicidade, ignorância e casmurrice, de toda a história, é reveladora de um país que tem (ainda) um enorme défice cultural…
 

2022/01/24

A FOBIA NA LOJA DO SHOPPING

Deambular nos vastos corredores de uma loja de vestuário de um shopping pode ser poesia em movimento. Mas, infelizmente passear nem sempre corre conforme o planeado E, às vezes, pode ser muito complicado... Confesso que ainda hoje (quando recordo esta aventura) tenho arrepios! Para os que estão próximos, ou fazem expedições aos shopping’s mais conceituados, a visita à loja da Primark é obrigatória. Quase como os Muçulmanos e a visita a Meca. Tem de acontecer, pelo menos uma vez na vida! As dificuldades começaram logo à entrada! Com tanta gente a sair da loja senti que, por cada passo que dava em frente, recuava três! Fartei-me de cruzar com o segurança na entrada e acho que até ele começou a duvidar das minhas intenções. Lá consegui atravessar aquele mar de gente para, dentro da loja, encontrar mais pessoas por metro quadrado que na Índia! Desejei ter um pão ou bolachas para deixar um rasto de migalhas. Mesmo assim, orientado pela minha esposa, segui viagem continuando a minha investida rumo ao interior da loja. De facto, compreende-se a elevada afluência de clientes e malta que, por arrasto, os acompanha. Os preços estão em sintonia com a quantidade de dinheiro das carteiras Tugas!

Enquanto procurava na secção de jeans para homem – e de ter chegado à conclusão que é necessário um curso académico para comprar um par de calças – olhei em redor e, num ápice, reparei que estava sozinho! A minha mente deixou de se preocupar com as palavras slim, chino, fit e outras parecidas, para se focar na terrível angústia de ficar preso por ali! Alheios ao meu sentimento de pânico, os restantes transeuntes continuavam a circular a alta velocidade, fazendo mesmo lembrar as imagens de Nova Deli, nos documentários! Será que alguém daria pela minha falta?! Ou teria de esperar pelo encerramento da loja para conseguir encontrar o caminho de regresso?! Num escasso e raro momento de lucidez – e abençoando as novas tecnologias – retirei o telemóvel do bolso para, num gesto de desespero – como se a minha vida dependesse disso – telefonar à minha esposa. Assustado, consegui articular (com alguma dificuldade) uma espécie de pedido de ajuda. Tenho de agradecer o rápido auxílio. Afinal, a minha heroína chegou depressa do corredor ao lado…
 

2022/01/20

O MUNDO AO CONTRÁRIO

Segundo os cálculos científicos, já atingi metade da esperança média de vida. Fazendo as contas – e se tudo correr bem – restam ainda quatro décadas. O que, de facto, é uma óptima notícia para o meu gestor bancário e crédito habitação. Sim, quando estiver velho e caquético, vou poder dizer (se me lembrar, claro!) que sou um orgulhoso proprietário de uma casinha! Até lá, tenho uma parceria com uma tal de dona hipoteca, que nunca vi, mas está sempre presente! Quem casa, quer casa. Um dos ensinamentos que atravessou gerações. Contudo, os últimos tempos registaram mudanças comportamentais a um ritmo alucinante! As gerações mais velhas, que sempre foram consideradas fonte de sabedoria, são as principais vítimas. Hoje, uma conversa entre avós e netos é tão disfuncional que até pode ser em japonês! Não se entendem! Há um tremendo fosso de conhecimento entre eles. A infância dos mais velhos foi ao ar livre, com jogos tradicionais e brinquedos improvisados e todos eram amigos. Mesmo que uma qualquer discussão fosse resolvida a murro. No final da tarde, estavam todos (mesmo o que ficou com um olho negro) a planear o dia seguinte!

Actualmente, nada é feito sem a presença de um tablet ou telemóvel de última geração com recurso ilimitado às redes sociais. Os anciões, e seus conselhos válidos, estão desactualizados (alguns ainda se assustam quando descobrem que se utiliza um rato para mexer no computador. Ficou esperto o fuinha…). Compete aos jovens (os principais beneficiários desta actualização instantânea e mudança de valores) ter em conta a reintegração dos idosos na sociedade. Explicar-lhes que a democracia tem outros contornos e que, nestes tempos modernos, as leis são impostas pelas minorias. Haja quem explique à Ti Maria que a sua miserável reforma (calculada por uma forma aritmética indecifrável) pode desaparecer num rápido assalto. E que o meliante tem melhores armas que a polícia. Digam também ao Ti Manel, um mulherengo assumido – com várias conquistas amorosas no curriculum – que já não pode mandar piropos, ou comentar em voz alta os atributos das senhoras. Corre o risco de levar com uma manifestação à porta do centro de dia e ainda, uma multa bem pesada pelas autoridades. Coitado, com o que recebe de reforma, ficava sem comer sopa durante quinze dias...
 

2022/01/19

A CULPA É DA EMEF

A nossa cultura incide no momento. Os Tugas preferem as soluções imediatas de desenrasque do que planear atempadamente seja o que for. Se correr mal – e vai, de certeza – será mais fácil justificar a incompetência com razões misteriosas do oculto ou simples falta de sorte. A maioria dos órgãos de comunicação social contribuem para esta cultura. À excepção da crise do Sporting ou qualquer amuo do Cristiano Ronaldo (como se ele tivesse razões para estar amuado!) todos os assuntos ou notícias são espremidos, em directo, durante um dia inteiro. Depois disso, cai no esquecimento. As greves são um exemplo fantástico! Emissões com directos constantes com intervenções das partes em conflito. (Se bem que usar a palavra conflito não faz muito sentido porque, no final, todos ganham e ninguém percebe como calcularam as percentagens.) No dia seguinte, todos voltam à rotina diária sem qualquer consequência prática. Todas as greves que presenciei provaram ter este efeito. O dia da greve causa atrasos, transtornos aos mais distraídos e menos prevenidos financeiramente e mais coisas que se possam lembrar. Já o dia seguinte chega pleno de normalidade sem que alguém se recorde o motivo da greve. Afinal, conforme diz o povo, são sempre os mesmos às turras!

Contudo, a última greve nos transportes públicos foi diferente! A EMEF (Empresa Manutenção Equipamento Ferroviário) – desconhecida pela maior parte dos utentes do Metro do Porto – é considerada a grande responsável pela alteração de horários e frequências dos veículos da rede da operadora. O caricato é que a greve terminou há cerca de um mês! Mesmo assim, diariamente, os painéis de informação das estações fazem questão de passar a informação que, basicamente, a culpa é da EMEF. Desta vez, ninguém pode dizer que tudo ficou na mesma! Os utentes (mesmo os que não pagam bilhete) queixam-se da falta de veículos, condições e horários. No entanto, sem alternativa, habituaram-se a aceitar esta nova realidade. Ninguém sabe por quanto tempo. Isso implica uma resposta do governo e, como sabem, os senhores ministros estão ocupados com outras coisas. Até lá, está resolvido: os utentes sabem quem devem culpar! E, mesmo que, contrariamente às previsões meteorológicas, amanhã chova… a culpa é da EMEF!
 

2022/01/18

UM PONTAPÉ NAS BOLAS

É um tema muito complicado para abordar. O futebol é o único assunto que consegue provocar discussões, destruir amizades e, por vezes, partir alguns ossos aos Tugas. As mentalidades evoluíram, mas continua a ser mais fácil perdoar a um qualquer político que rouba em proveito próprio que a um árbitro que não marcou um penalty ou invalidou um golo. Toda esta paixão exacerbada transformou os clubes em empresas e temos, actualmente, toda uma panóplia de pessoas que se alimentam dos adeptos e sua disponibilidade para gastar dinheiro. Em nome do clube, claro! Ser Tuga e não gostar (ou não perceber a arte da bola) é como uma criança que não gosta de gelados ou até de hambúrgueres nas lojas de fast-food que todos conhecemos. Se tal acontecer, é porque algo não está bem! É levar o puto ao médico quanto antes. O mundo da redondinha é bem mais aliciante que o mundo dos estudos. E, claro, os salários também. Mesmo que não se tenha jeito para correr, fintar ou dar pontapés nas bolas há outras alternativas. Curso de treinador, director desportivo ou, quem sabe, presidente de um clube. Nenhuma destas possibilidades serve? Resta dirigir uma claque desportiva. Antes que descartem esta hipótese, leiam o resto da crónica (vá lá, já que chegaram até aqui) e fiquem a saber o que têm vindo a perder. Tenho de referir que – conforme tem sido meu hábito – os textos não procuram ataques pessoais, mas sim, a ironia patente nas situações abordadas. Que o humor tenha capacidade para “acordar” algumas consciências adormecidas…

O país está uma merda! Sabemos disso. A palavra corrupção tomou conta dos serviços noticiosos e, neste momento, quem não tem “cunhas” ou “favores a pedir” é considerado um grande otário! E a reputação do lado negro é proporcional ao valor “metido ao bolso”. Há perdões de dívidas milionários para o Ricardo Salgado enquanto para a Tia Micas – que não pagou uns míseros trocos – vai uma nota judicial com arresto de bens e ameaça de cadeia. Porque é importante tratar sem clemência os que mais lesaram o Estado Português: os que roubam alguns cêntimos! Este sentimento de inércia e marasmo permitiu-me assistir, impávido e sereno, à chegada do líder de uma conhecida claque desportiva para a sua última sessão judicial no Tribunal. Fez jus ao estatuto de estrela de cinema (atribuído pela comunicação social) e conseguiu surpreender por se ter feito deslocar numa viatura “Lamborghini”, cujo valor ascende aos trezentos mil euros. Certamente, muitos já encaram com bons olhos a possibilidade de seguir carreira política numa claque desportiva em vez de pagar propinas e sofrer todas as dificuldades do sistema de ensino público. Nas palavras imortais do antigo seleccionador nacional Luíz Filipe Scolari: “E o burro, sou eu?”. A resposta é simples: sou, sim senhor!
 

2022/01/17

O PODER DA SUPERNANNY

Duas emissões semanais de um programa televisivo foram suficientes para agitar as águas no Ministério Público e obrigar o canal televisivo “Sic” a interromper a exibição do terceiro programa. O que prova que o nosso sistema jurídico, quando quer, até sabe como trabalhar devidamente! A pergunta impõe-se: que programa é este que causou tanta polémica? Recorrendo a uma das mais úteis invenções tecnológicas dos últimos tempos – a box com gravações automáticas – tive oportunidade de assistir ao primeiro episódio. Uma mãe em apuros com a sua própria filha. Birras, ausência de autoridade, recusa em tomar banho, etc. Depois de ouvir este grito desesperado por ajuda, eis que a Supernanny entra em cena! Teresa Paula Marques. Uma figura feminina, autoritária e vestida como um ministro do Parlamento, entra em casa para presenciar as atitudes maléficas do pobre petiz. Depois de observar e registar os actos demoníacos – que têm levado a mãe e avó à loucura – a super-ama (em português) apresenta as soluções enquanto passa um atestado de incompetência às adultas lá de casa. Em pouco tempo (porque o programa televisivo é curto e a maior parte foi preenchida com o lado negro da criança) as soluções provam-se eficazes e a miúda nem parece a mesma! Eureka! Sucesso! O poder da Supernanny salvou o dia! Acabou a rebeldia!

É claro que se pode discutir a questão da privacidade da criança, da exposição mediática e até, a questão de tudo isto ter sido feito por dinheiro. Sabemos que a busca por audiências implica, cada vez mais, programas mais chocantes e de baixo nível. Por Terras Tugas há ainda muita gente que não tem noção deste oportunismo por uma qualquer produtora. Razão pela qual os outros pais solicitaram o cancelamento das restantes emissões… depois de terem aceitado gravar. Perdi quarenta minutos a assistir a um programa – que usa o mesmo formato que aquele do cozinheiro que anda pelas cozinhas imundas e deixa tudo a funcionar de maneira brilhante – e veio-me à memória um fantástico filme: O Exorcista. Estreou em 1974 e relata as peripécias de um padre que entra numa casa para combater uma criança endiabrada. A seu lado uma mãe desesperada. As semelhanças são evidentes. Contudo, no filme era um demónio terrível, quarenta anos depois é apenas a educação. Ou a falta dela!
 

2022/01/14

GERAÇÃO FACEBOOK

Tenho de perguntar, caro leitor, sabe quem eu sou? Aquilo que faço? A minha história de vida é digna do seu “gosto” na minha página? Não utiliza o Facebook? Eu tenho o Instagram! Porque – e caso não tenha ainda reparado – tudo se resume à nossa prestação nas redes sociais. Porque o nosso estatuto (status quo) é medido pelo número de amigos ou gostos na nossa página. Mesmo que não se conheça aquela gente de lado nenhum. Estão lá, como numa montra, e é tudo o que importa! Talvez por isso alguns utilizadores usam as amizades como uma qualquer aplicação: instalam e removem conforme sua vontade… ou quando elas incomodam. Os nossos comportamentos mudaram radicalmente! Urge estar sempre ligado. Sair de casa sem o telemóvel (ou tablet) é mais grave que ter esquecido vestir as cuecas. Não tirar a foto à comida é bem mais grave que esquecer dar graças pela refeição. Certamente já pensou noutros exemplos que retractam a nossa mudança de atitude social. Tudo é publicado em busca da notoriedade e fama instantânea. Todos devem saber onde estive, quem me acompanhou e o que lá fui fazer. Quero que inundem a minha página de “likes” para eu ter a certeza que vocês viram e ficaram roídos de inveja!

Porque as redes sociais são o jornal diário. É necessária audiência e muitos seguidores. Mesmo que tamanha abertura seja sinónimo de ridículo, desespero e falta de noção do perigo que é partilhar informação pessoal com estranhos! Nada se faz sem este software do Diabo. Qualquer motivo serve para aceder às últimas publicações, tendências e discussões. É incrível a força demonstrada, pelas redes sociais, no que se refere à movimentação das massas para assuntos medianos, absurdos e sem qualquer importância! Comentários e mais comentários. Mas só isso! Não esperem mais nada da participação cívica Tuga. Tenho esperança que esta fase (ou dependência) passe e que volte a ser possível tomar um café com amigos que consigam conversar e estabelecer contacto visual (em vez de estar constantemente a olhar para os ecrãs). Enquanto esse dia não chega vou espreitar o meu mural – para saber quantos leram este texto – e aproveito para verificar se faço parte dos que se vestiram à pressa… sem cuecas!
 

2022/01/13

ARRUAÇA LITERÁRIA

Caros leitores, resolvi dedicar esta crónica a um tema muito interessante e que tem sido estudado e conversado ao longo dos séculos: a guerra dos sexos. Durante muito tempo o Homem mandou nas mulheres. Desde o ritual de acasalamento da pré-história – uma paulada na cabeça e arrastá-la pelos cabelos – até aos tempos mais modernos em que o romance se prolonga durante o namoro e vai-se aguentando até ao casamento. Infelizmente há casos em que o romance acontece várias vezes com o mesmo protagonista… Porque a fama do amante latino é sobejamente conhecida pelo mundo fora. As inglesas deliciam-se nas visitas aos locais mais “calientes” da noite algarvia (e não só). E, claro, com tanta procura os Tugas, mais efusivos, dão largas aos seus dotes de sedução. Conhecendo as nossas características naturais – e tendo como referência Zézé Camarinha – confesso não perceber como conseguem tantos engates. Será verídico ou apenas uma forma de expressão gabarolas?! Deixo-vos um dilema:

João Astúcio foi viajar de avião. Ficou no lugar do meio entre duas belas senhoras. Durante a viagem, elas adormeceram e uma encostou a cabeça em seu ombro. Tirando partido do seu machismo resolveu tirar uma fotografia e partilhar nas redes sociais fazendo referência à sua nova conquista. «Mais uma mulher que dormiu comigo!». Pergunta: Será que este tipo de aventura conta para a estatística do “dormimos juntos”? Se souber a resposta não hesite! Pode enviar para xor.correia@sapo.pt
 

2022/01/12

TODA A GENTE MENTE

É uma verdade assumida. Concordar ou não, fica ao vosso critério. Faz parte do pacote de Abril. Graças a uma revolução, em nome da democracia e liberdade de expressão, as pessoas conquistaram novos direitos. Reclamar é um deles. E se, alguns utilizam este novo poder com moderação e assertividade, outros pelintras (invadidos por um sentimento de importância extrema) banalizaram este direito conquistado há quatro décadas. Há sempre quem estrague tudo… É sabido que o mercado de trabalho não oferece boas condições. As constantes mudanças no plano educacional também afectaram as aspirações dos jovens. Serve o 9º ano (incompleto) ou um desses cursos profissionais tirados à pressa. Esta nova classe social – motivada pela crise, excesso de subsídios e falta de valores – aumenta a cada dia! É preocupante, acreditem! Não se pode fechar os olhos a esta realidade! Eles andam por aí, em grupo (matilha, bando ou como queiram chamar) a tentar queimar o tempo livre que deveria ser ocupado a trabalhar! Objectivo de vida: engravidar a mulher e esperar, nos cafés, a vinda do carteiro para ver se chega mais um cheque de um qualquer subsídio.

Adoram utilizar os transportes públicos. Principalmente os que são de borla por falta de meios de fiscalização (e lei que protege o infractor). Estes sacos de brita julgam-se no direito de reclamar como um cliente regular que cumpre as obrigações! Fruto de uma sociedade que se tornou demasiado tolerante com as minorias e fustigados da vida (vadios) julgam-se no direito de demonstrar toda a falsa modéstia e falta de educação. A passividade dos utilizadores e ausência de autoridade é algo que me assusta. O que aconteceu à nossa coragem?! Como pode uma minoria (malformada) impor a sua vontade à maioria?! A reclamação é uma ferramenta poderosa que pretende defender quem se julga ofendido. O bom senso também! Muitas vezes, assumir o nosso erro ou distracção é um pequeno (grande) passo para terminar uma discussão ou actos mais violentos. E se, mesmo assim, optarem por seguir com a reclamação gratuita e fortuita tenham em atenção a verdade dos factos. Felizmente há o contraditório. Porque toda a gente mente…
 

2022/01/10

A HERANÇA DO PALITO

Era inevitável abordar este tema. Um acto maquiavélico fez disparar a popularidade de um simples indivíduo que ninguém conseguiu encontrar! Excluindo os dias em que houve jogos de futebol – com casos de arbitragem – o tema das conversas foi, sem dúvida, a saga que envolveu Pedro Dias e as forças policiais. Várias semanas de inércia e especulação medíocre, por parte de alguns meios de comunicação, perante a falta de notícias. Quase como uma repetição da fuga de Manuel Baltazar (Palito). Segui atentamente a sequência frenética de disparates e falta de coordenação de meios. A perseguição transformou-se em caça e, mesmo assim, a presa (sem recursos) conseguiu escapar ilesa! Algo que não favorece a imagem e reputação das entidades envolvidas. Muitas asneiras foram ditas e publicadas. O homem parecia uma personagem bíblica com o dom da omnipresença! Roubou várias viaturas e nunca saiu de Arouca. Estavam na reserva. São sinais da crise! Podemos presumir que, por lá, não abundam os postos de combustível nem dinheiro. Talvez se tivesse levado um tractor… o gasóleo agrícola sai mais em conta!

Não podemos esquecer o taberneiro espanhol que resolveu dar o alerta com duas semanas de atraso. Foi impossível apurar a veracidade das declarações pois o sistema de vigilância da taberna já não tinha as imagens. O arquivo é pequeno e os seus olhos vêem a dobrar! Conseguiu publicidade gratuita e, certamente, as equipas de reportagem (já que estavam por lá) aproveitaram para fazer alguma despesa. A verdade dos factos sofreu alterações à medida que os dias passaram. Razão pela qual resolvi esperar para escrever acerca deste tema. Num acto de heroísmo – rivalizando com as eleições americanas e vitória inesperada do Donald Trump – a televisão pública foi convidada a registar o momento da entrega do fugitivo. Com melhor aspecto, que há um mês, provou que as medidas de austeridade do anterior Governo estavam certas. Afinal, é possível sobreviver com 60 euros mensais! A alimentação à base de frutos secos, kiwis e meio frango (a proteína) promete fazer as delícias dos melhores restaurantes nacionais. Façam já a reserva!

Entregou-se. Cansado de esperar que o encontrassem. Está bem representado judicialmente e tem protecção das mais altas patentes. Os advogados, com as suas estratégias de defesa e malabarismos, invocaram o segredo de justiça e pronto: silêncio! Quanto aos devotos seguidores diários deste (quase) “reality show”, lamento profundamente ter de vos informar: o povo não precisa de saber mais nada!