2022/01/17

O PODER DA SUPERNANNY

Duas emissões semanais de um programa televisivo foram suficientes para agitar as águas no Ministério Público e obrigar o canal televisivo “Sic” a interromper a exibição do terceiro programa. O que prova que o nosso sistema jurídico, quando quer, até sabe como trabalhar devidamente! A pergunta impõe-se: que programa é este que causou tanta polémica? Recorrendo a uma das mais úteis invenções tecnológicas dos últimos tempos – a box com gravações automáticas – tive oportunidade de assistir ao primeiro episódio. Uma mãe em apuros com a sua própria filha. Birras, ausência de autoridade, recusa em tomar banho, etc. Depois de ouvir este grito desesperado por ajuda, eis que a Supernanny entra em cena! Teresa Paula Marques. Uma figura feminina, autoritária e vestida como um ministro do Parlamento, entra em casa para presenciar as atitudes maléficas do pobre petiz. Depois de observar e registar os actos demoníacos – que têm levado a mãe e avó à loucura – a super-ama (em português) apresenta as soluções enquanto passa um atestado de incompetência às adultas lá de casa. Em pouco tempo (porque o programa televisivo é curto e a maior parte foi preenchida com o lado negro da criança) as soluções provam-se eficazes e a miúda nem parece a mesma! Eureka! Sucesso! O poder da Supernanny salvou o dia! Acabou a rebeldia!

É claro que se pode discutir a questão da privacidade da criança, da exposição mediática e até, a questão de tudo isto ter sido feito por dinheiro. Sabemos que a busca por audiências implica, cada vez mais, programas mais chocantes e de baixo nível. Por Terras Tugas há ainda muita gente que não tem noção deste oportunismo por uma qualquer produtora. Razão pela qual os outros pais solicitaram o cancelamento das restantes emissões… depois de terem aceitado gravar. Perdi quarenta minutos a assistir a um programa – que usa o mesmo formato que aquele do cozinheiro que anda pelas cozinhas imundas e deixa tudo a funcionar de maneira brilhante – e veio-me à memória um fantástico filme: O Exorcista. Estreou em 1974 e relata as peripécias de um padre que entra numa casa para combater uma criança endiabrada. A seu lado uma mãe desesperada. As semelhanças são evidentes. Contudo, no filme era um demónio terrível, quarenta anos depois é apenas a educação. Ou a falta dela!
 

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