2022/01/28

A CAIXA QUE MUDOU O MUNDO

Nos últimos dias fui atacado por um sentimento nostálgico. A minha memória resolveu abrir a gaveta das recordações e trouxe-me imagens dos serviços noticiosos televisivos de 1991 (a bem dizer, só havia um!). O mundo assistiu estupefacto à Guerra no Golfo. Metade das pessoas nunca tinha ouvido falar no Kuwait e, pela primeira vez, tiveram a possibilidade de assistir a uma guerra em directo! Sim, muitos podem criticar que o cenário era sempre o mesmo e que os mísseis eram disparados sempre no mesmo sentido mas, naquela altura, todos queriam saber os relatos do repórter – algures no deserto da Arábia Saudita – Artur Albarran! Os anos passaram. O jornalismo e as mentalidades modificaram-se. Actualmente há mais probabilidades de assistir a directos televisivos que a filmes ou a telenovelas! Até parece que virou moda! Qualquer acontecimento (ou fofoquice) tem direito a emissão especial, com duas pessoas no local: uma a segurar a câmara de filmar, a outra com um microfone a relatar o que se passa! Mesmo que, por vezes, dê a ligeira sensação de não saber o que está lá a fazer…

A incessante demanda pela verdade e informação implica encontrar revelações bombásticas e em primeira mão. E, como tal, alguns canais de televisão massacram (literalmente) todos os que encontram pela frente, com perguntas descabidas e sem qualquer fundamento. Tudo na emoção do momento e com o objectivo de tentar escalpelizar uma notícia que já deixou de o ser. Com esta ideia em mente – e sabendo que demasiada informação revela trapalhadas e falhas institucionais – comecei a visualizar os sucessivos briefing’s (que chique em estrangeiro!) da nossa Protecção Civil. Estes encontros informativos, com a imprensa nacional para dar conhecimento do que se passa no “teatro de operações”, segue o mesmo princípio da guerra em directo… há 27 anos atrás! Os espectadores ficam agarrados ao ecrã para saber o que se passa com os incêndios! Alguns, de tão perto que estavam da televisão, ficaram com queimaduras! Dada a duração do directo televisivo já não fazem mais nada! Porque é importante saber se já evacuaram a parvónia com três habitantes e sem estradas de alcatrão; se o agente da polícia (a conduzir uma velhinha Yamaha DT) conseguiu avisar todos os habitantes (os três) e se o Ti Manel (que nem médico de família tem) viu passar algum bombeiro!

Em 2017, o nosso Presidente da República deslocou-se de imediato a Pedrogão Grande. O Primeiro-ministro – para não ser repreendido – fez o mesmo. Juntaram-se mais políticos, no centro operacional, que bombeiros! Este ano, perante uma tragédia florestal grave, os políticos resolveram esperar que tido estivesse resolvido. Os afectos (beijinhos e abraços) às vítimas dos incêndios foram mais comedidos. É bem feito! Alguns até nem foram votar! E não digam que foi por falta de transporte! Andar a pé, mesmo sendo 15 ou mais quilómetros, significa fazer exercício físico e os médicos recomendam! Podia escrever mais sobre este tema, mas entretanto começou um novo directo televisivo e eu quero mesmo saber o que se passa! Como está o incêndio e quantas frentes activas tem; quantos homens e viaturas estão no terreno e se há aviões a despejar água. Segundo dizem, não há dinheiro para espuma ou outros meios mais eficazes! Daqui a pouco, vou ouvir especialistas a dissertar sobre o que deve ser corrigido. Não vou conseguir escutar todos… porra, são tantos!
 

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