2022/01/25

ESTRANHA FORMA DE VIDA

Rosto marcado pelo cansaço de uma vida árdua, cabelo branco curto com bigode farfalhudo da mesma cor e com uma simples camisa de ganga há muito zangada com o ferro de engomar. É assim que Dionísio surge no ecrã, durante o serviço noticioso do “Correio da Manhã”, para explicar como outra pessoa levou uma facada por ele… No final de jantar – para fazer a digestão – deslocou-se à garagem. Foi quando avistou o Almerindo da Silva. De imediato começaram a trocar insultos! Uma pequena nota de introdução: decorre um processo judicial, entre eles, pois não é a primeira vez que “esta pessoa” o assassina! Segundo o entrevistado, o juiz não avançou com a condenação por falta de “alimentos legais”. Porque o magistrado não tem dúvidas quanto às intenções maléficas por parte do arguido que, num gesto de provocação, insiste em abrir e fechar brutalmente as persianas às 5 e 6 da manhã. Até usou aquele ditado do cântaro que vai à fonte. Por coincidência, o malvado, adoeceu no próprio dia do julgamento...

Enquanto decorria a sessão de insultos gratuitos, entre os dois, um vizinho (a garagem é muito agitada!) resolveu intervir para acalmar e impedir que perdessem a cabeça. Tal gesto heróico valeu-lhe uma facada! O Dionísio não sabe se foi uma, duas ou três. Confirma que – o outro – ficou a escorrer sangue de um ataque que tinha o seu nome escrito. Apresentou queixa na polícia! Esteve toda a manhã na esquadra e recebeu um papel que, ainda hoje, não tem coragem de ler… Uma zanga sem motivo; um herói ocasional mal tratado; uma agressão bárbara por alguém que tem idade para ter juízo. No entanto, a simplicidade, ignorância e casmurrice, de toda a história, é reveladora de um país que tem (ainda) um enorme défice cultural…
 

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