2022/01/26

ESPERANÇA E COTOVELITE

A revolução cultural causada com o aparecimento da televisão foi totalmente ultrapassada com as novas tecnologias. O acesso fácil à Internet e redes sociais são o chamariz perfeito para partilha de informação, projecto ou talento mais escondido. Os Tugas soltaram as amarras e – tal como nos Descobrimentos – partiram nas caravelas “YouTube” e “Facebook” à conquista do mundo virtual. As benesses da tecnologia informática inexistentes no século passado (Eça de Queirós, Florbela Espanca e outros não tinham Facebook ou blogues) permitiram renovar a esperança da realização dos sonhos. Escritores, cantores, bailarinos e outros têm uma panóplia de ferramentas e oportunidades nunca vistas. Sem nada a perder – e com elevada dose de ingenuidade – começaram a divulgar os seus trabalhos nas redes sociais. Confesso que entrei neste barco em 2013, de olhos fechados, cheio de esperança, rumo ao incerto… Se alguns desistiram, outros cederam ao canto das primeiras sereias: as que prometeram ajudar. Escutando apenas o coração alinharam no jogo mesmo sabendo que os dados estão viciados. Porque nada consegue suplantar a alegria e júbilo de ter, na nossa mão, o tão desejado livro ou álbum musical em nome próprio! Quase como um propósito da nossa existência. A (falsa) sensação de imortalidade! O desejo de reconhecimento e divulgação ficam em modo histérico! Surge a vontade de estar em todo o lado para se dar a conhecer. Contudo, no meio de tanta destreza, vai-se ganhando consciência das dificuldades, da solidão, da falta de apoio e que o mercado está repleto de “novos artistas”. Arrisco a dizer – num choque abrupto com a realidade – mais oferta que procura. E, de repente, estamos à deriva…

Mas há aqueles que conseguiram vencer o Adamastor e chegaram, com sucesso, a bom-porto. Aqueles que conseguiram atingir o sucesso e, fruto disso, continuam a esgotar salas de espectáculo sabendo que todos os trabalhos (bons ou maus) que venham a desenvolver à posterior serão bem aceites. Importa dizer que estão inseridos numa comunidade fechada que não gosta de forasteiros. Os media dão cobertura sempre os mesmos… Esta “Geração Facebook” mede o sucesso em termos de “gostos” e número de seguidores. Quando a “coisa” corre mal não há qualquer problema em comprar alguns seguidores virtuais. Essa opção existe! Não há uma fórmula escrita para o sucesso. Por vezes é fruto de uma mera coincidência ou obra do acaso. É algo alheio à vontade e esforço do autor. A editora, os amigos e outros utilizadores deste software do Demónio, têm um papel importante na partilha e recomendação. Aliás, como amigos, devem estar presentes e apoiar incondicionalmente. Porém, entre agendas preenchidas e demasiada “cotovelite” ganham as cadeiras vazias. Caro leitor, tendo em conta tudo o que escrevi e tendo feito uma profunda análise da minha odisseia literária, que teve início em 2014, posso afirmar que ainda não consegui vencer o Adamastor…
 

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