2016/11/07

EM TEMPO DE DESCONTOS

A figura do polícia tornou-se presença indispensável em qualquer programa humorístico. Até nos cafés as conversas ou anedotas envolvem as forças da ordem. Uma atitude desafiadora da sua autoridade! Todos os seus gestos são observados ao pormenor…

Certamente, quando os (poucos) leitores terminarem a leitura, desta crónica, vão julgar conhecer este agente. O estacionamento selvagem, numa das principais artérias da cidade, era uma dor de cabeça constante para o polícia destacado para o local. Os condutores – alheios à sua presença – aproveitavam qualquer distracção para prevaricar. E, se fossem apanhados, lá começava o “choradinho”. Curioso, como os Tugas, nesta situação, passam de heróis destemidos a pedintes gagos.

O agente, envolvido numa luta desigual, prosseguia o seu calvário durante as horas do turno. Demorava mais tempo a ouvir as desculpas esfarrapadas dos condutores do que a preencher a multa. E para quê?! Ninguém paga! Para conseguir sair a horas, mudou a estratégia. Na última hora do serviço não passava multas. Aproximava-se da viatura em infracção e, por lá, permanecia. Olhava em redor. Abria o caderno e segurava na caneta. Tudo isto com a máxima lentidão possível. Para que o proprietário da viatura pudesse chegar (a arfar) junto dele.

Uma palavra mais severa e, por vezes, uma ameaça de reboque mas, no final, com ar magnânimo, deixava-o partir sem qualquer penalização. Desta forma impunha a sua autoridade sem necessidade de prolongar o turno e perder a sua boleia. Porque se o código é para cumprir, os horários de trabalho também são!

2016/08/30

INFELIZES ROUBADOS

Março de 2016 revelou-se cruel para os alunos da Escola Condução Europa, em Matosinhos. Um papel afixado nas instalações foi o único aviso de que a escola se encontrava encerrada. Nada fazia prever tal cenário, inclusive dias antes foram aceites marcações de exames, inscrições e até descontos para pagamentos antecipados.

A escola garantiu ter sido forçada a encerrar uma vez que a equipa de trabalho suspendeu, colectivamente, as suas funções. A nota informativa, escarrapachada na porta, explicava que tinham entrado em Processo Especial de Revitalização, o que não impedia o funcionamento. Os alunos lesados mobilizaram-se e dirigiram-se às instalações, para protestar, e ao Tribunal de Matosinhos. O processo está, contudo, a ser conduzido em Santo Tirso. São vários os alunos e familiares que quiseram agir judicialmente, tendo recebido indicação da nomeação de um administrador judicial provisório.

A vontade é reaver os valores pagos. No entanto, a esperança em ter o dinheiro de volta é escassa, entre os queixosos. A principal preocupação é ter acesso às licenças de aprendizagem, para que possam continuar a tirar a carta de condução noutra escola. Segundo Daniel Soares – advogado representante de alguns queixosos – será difícil recuperar os valores investidos se a empresa está com dificuldades financeiras.

Meses depois, a proprietária, Ana Mafalda Portela, mantém-se incontactável. A correspondência amontoa-se no chão, junto à porta de entrada, sem espaço para mais ordens judiciais. No painel publicitário – onde se lê o lema da escola: “aqui nós somos felizes”, alguém rasurou para “Infelizes roubados”. Desportivismo e humor. Assim se encara a realidade…

2016/08/23

NINGUÉM VAI ACREDITAR NISTO...

O drama dos fogos florestais e falta de meios, das autoridades competentes, não é qualquer novidade ou motivo para graçolas. Mas há alturas em que as forças no terreno duvidam da sua sanidade mental. Em Caminha, bombeiros, sapadores, agentes da GNR (Guarda Nacional Republicana) e outros operacionais desenvolveram esforços numa serra árida consumida pelas chamas e submersa num manto de fumo denso. Enquanto alguns habitantes abandonavam as suas casas para fugir do fogo, um repórter televisivo – numa reportagem em directo – foi surpreendido pelo pivô (também ele incrédulo) perante uma imagem curiosa no meio das chamas: um astronauta... 

 

José Rodrigues, bigode branco até ao queixo e tocador de concertina nas romarias, estava longe de imaginar que o seu “amigo”, vindo de França, se transformaria no foco de atenção daquele dia. Não há registo do nosso envolvimento na conquista do espaço. Pelo menos, directamente, pois há Tugas a trabalhar para a Nasa. (Curiosamente, na presença de outros povos e noutro país, conseguimos fazer boa figura). Enquanto as labaredas gigantes lhe cercavam o lar, estava risonho e confiante de estar a salvo, contrastando com o pânico da esposa Arminda. O maior incêndio da última década, na serra onde escolheu viver após anos de emigração, acabou por não atingir a sua habitação. O seu astronauta foi uma “estrela” nas redes sociais. José ri-se de tudo isto.


 in "As Crónicas Tugas, tem de ser" (Chiado Editora, 2016)

2016/08/15

LIVRAI-NOS DO MAL

Nada disto que escrevo vai alterar o rumo dos acontecimentos ou mudar mentalidades. Mas, todos os anos, por esta altura, repete-se a mesma história: o flagelo dos incêndios florestais. Tudo em nome da maldita ganância em arranjar maneira de vigarizar umas quantas apólices de seguros e conseguir despachar uns pinheiros que - segundo os proprietários - incomodam e ficam melhor quando trocados por eucaliptos.

A estupidez e egoísmo destas bestas cega-os! Esquecem que o Homem não controla a Natureza e, que, o fogo é um elemento totalmente imprevisível! Em poucos segundos ganha "vida própria” e põe em causa populações envelhecidas, esquecidas e afastadas dos centros. Perder uma casa - esforço e sacrifício de décadas - é uma dor e agonia que não consigo descrever. Inclusive, quando há idosos acamados que não conseguem escapar sem ajuda dos vizinhos.

Os bombeiros - lembram-se?! Aqueles barrigudos que acusamos de nada fazer durante o ano?! Sim, esses. Transformam-se em heróis! Desdobram-se em esforços sobre-humanos para lutar contra um inimigo demasiado poderoso! Arriscam as suas vidas a cada segundo. Conseguem, minhas bestas pirómanas, imaginar a angústia e desespero das famílias dos bombeiros que, neste momento, tentam corrigir o vosso gesto de estupidez?! E que dependem de equipamento obsoleto (cortesia de um ministro engravatado que não prescinde da sua viatura topo-de-gama). Há corporações com viaturas mais velhas que eu!

Sei que tenho dedicado a minha escrita aos factos caricatos Tugas. Hoje não vou criticar! Quero transmitir a minha solidariedade e força aos que lutam contra a estupidez humana. Pois, sem dúvida, é ela a principal responsável por este flagelo! E, parece não haver solução à vista…

2016/07/29

CASTELOS CHINESES

Em 2004, o futebol conseguiu reacender a paixão de um povo pelos seus símbolos: bandeira e hino! Graças ao apelo de Luís Filipe Scolari, a nação mobilizou-se e acreditou, sempre, no tão desejado título europeu. Todos acreditamos! Menos a Grécia. Os chineses, também acreditaram! Não na qualidade da selecção, mas na quantidade de dinheiro! Tamanha maluqueira por bandeiras e bandeirinhas justificou o investimento! E como tempo é dinheiro, fabricaram, com urgência, as tão desejadas bandeiras portuguesas... 

 

Rapidamente, o Tuga invadiu as lojas chinesas para satisfazer, orgulhosamente, o pedido do seleccionador nacional, a um preço modesto, conforme é hábito nas referidas lojas! Com a pressa (e falta de conhecimento!) poucos repararam no ultraje dos nossos símbolos nacionais, aliás, punível com pena de prisão e multa! Em vez dos castelos, a bandeira nacional, tinha pagodes! São torres aparentemente sobrepostas, com múltiplas beiradas, muito comuns na China! O que prova que poucos conhecem os símbolos nacionais! Em 2013, em plena Sede do Conselho Europeu, alguém resolveu hastear a bandeira versão chinesa. Só deputados comunistas repararam.


in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)

2016/07/22

UNIFORMES AO BARULHO

Depois de escrever sobre tantos relatos peculiares, deste cantinho à beira-mar, tenho de admitir que ainda surgem algumas situações que me fazem duvidar da capacidade de discernimento Tuga. Uma ambulância do INEM (Instituto Nacional Emergência Médica) foi accionada para transferir uma doente, com enfarte agudo do miocárdio, do Hospital Caldas Rainha para o Hospital Santa Maria, em Lisboa. Durante a viagem, na auto-estrada A8 (Leiria a Lisboa) a senhora, de 80 anos, acabou por falecer, tendo o óbito sido declarado pela equipa médica. Segundo a legislação, a ambulância está proibida de transportar cadáveres. A tripulação aguardou a chegada das autoridades para que fosse efectuada a remoção do corpo...

 

Quando a Brigada de Trânsito chegou – e para espanto de toda a equipa dos Bombeiros Voluntários de Óbidos – multou o condutor por infringir o Código da Estrada e pôr em risco a circulação. Segundo o comandante dos Bombeiros, Carlos Silva, a viatura estava parada na berma. Devidamente sinalizada. Algo que a polícia resolveu ignorar, como prova a multa de 120,00 euros aplicada à corporação e ao condutor. Entretanto, num comunicado oficial sobre a situação, a G.N.R. esclarece que o expediente vai ser arquivado, por se ter verificado não existir infracção. A multa será arquivada. Mais um episódio caricato, que acontece num país pequeno, com muitas regras e demasiados egos.

in "As Crónicas Tugas, tem de ser" (Chiado Editora, 2016)

2016/07/15

UM OUTRO MELHOR BONJOUR

Começo com uma declaração de interesse: sou português! E é com um especial sentimento de felicidade que escrevo esta crónica. Depois de tantos relatos peculiares – de um povo que insiste em fazer tudo ao contrário – congratulo-me por escrever sobre um grande feito (até parece que alguém na Selecção Nacional leu o livro que escrevi).

Ao contrário de muitos profetas, bruxos de última hora e alguns “vira-casacas” confesso que nunca admiti a nossa candidatura à vitória neste torneio de futebol (Euro ’16). Como tal, aqui e agora, penitencio-me. O futebol é irracional, imprevisível e tudo aquilo que lhe queiram chamar. Mais do que nunca 11 milhões de pessoas mostraram orgulho no seu país!

O mundo adormeceu com as imagens, cores e sons dos festejos nacionais. Os Tugas libertaram-se da maldita pequenez e inferioridade gritando, bem alto, “campeões”! Provavelmente, os franceses – que nos têm acolhido e dado emprego há tantas décadas – nunca esperaram este desfecho. Espero que o saibam aceitar. Sem represálias. Sem mau perder. Já bastou ver os seus jogadores arremessarem as medalhas. E, nas ruas de Paris, ver a circular (antes do jogo) um autocarro alegórico francês. Nas próximas semanas ouvir-se-á, um outro melhor “bonjour”. Habituem-se!

Uma palavra para o “special one” José Mourinho. Em tempos, numa entrevista, revelou ter como terceiro objectivo na sua carreira: «dar ao seu país um título de campeão que ainda ninguém deu». Definiu 2018 como sendo a altura ideal. O Fernando Santos (novo herói nacional) não quis esperar. Para ele, para os jogadores, para toda a equipa técnica e para todos os atletas de outras modalidades (não os podemos esquecer!) que elevam o esplendor de Portugal: um enorme obrigado!

2016/06/01

MILAGRE!

Temos uma ideia pré-definida sobre certos locais ou instituições que resultam de más notícias, comentários, boatos ou outra espécie de relatos de fonte duvidosa que acabam por influenciar negativamente os nossos gostos e escolhas. Mas há sempre alguém disposto a confirmar…

Pela primeira vez na vida, Jorge Gonçalo, deslocou-se a uma reunião da tão criticada Igreja Universal. Integrado no espírito celebrativo, partilhou as práticas e orações dos presentes. De repente, o Pastor aproximou-se do seu lugar. Olhou fixamente e perante a plateia apontou o dedo. Piedosamente, ele ajoelhou. O Pastor colocou as mãos na sua cabeça e disse em voz alta: «Irmão, tu vais caminhar!». E continuou a exclamar a mesma frase, várias vezes, quase em forma de grito, ignorando completamente o Jorge, que lhe garantia não ter qualquer problema de locomoção!

A Assembleia, com as mãos no ar, começou também a repetir a mesma frase. A seguir o coro. Cada vez mais forte e com mais energia. Todos em júbilo repetiam a mesma frase: «Tu vais caminhar! Tu vais caminhar!». De nada servia contrariar… Optou por concordar.

Quando a cerimónia terminou, deixou o edifício a pensar nos momentos estranhos e bizarros que tinha vivido. Como é possível tanta gente acreditar naquilo!? Que completo chorrilho de disparates! Contudo, acreditem que o maldito Pastor estava certo. Durante a cerimónia roubaram-lhe o carro.
 

2016/05/31

UMA GRANDE CALDEIRADA

A soberania de um país é comparável ao papel do homem no casamento. Há igualdade de direitos mas as directrizes são sempre impostas pela outra parte. Nada a fazer!

Portugal sofreu uma limitação de quota disponível, para a pesca da sardinha, durante os últimos meses. Durante este tempo poucos se importaram com os pescadores. Nem como conseguiram sobreviver ou garantir o seu fraco rendimento apesar das contas continuarem a chegar todos os meses! A restrição terminou. E, entretanto, algo mudou nas mentalidades politiqueiras Tugas…

O canal de televisão “Sic” assegurou a cobertura mediática de um gesto tantas vezes repetido e sem tanta cerimónia: a pesca da sardinha. Foi possível acompanhar, a partir de Matosinhos, o regresso dos pescadores à faina. Contudo, analisando as imagens divulgadas, fiquei convencido que, no local, estiveram mais políticos do que pescadores. Com aspecto cansado, pois esta malta trabalha em horários nada saudáveis.

A actual Ministra do Mar, o adjunto do secretário de Estado das Pescas, o Presidente da Câmara Municipal, a Presidente da Assembleia Municipal e, com certeza, outras individualidades importantes que fizeram questão de marcar presença e sorrir (ensonados) para as câmaras de vídeo. E pescadores? Filmados ao longe, dentro dos barcos, a tocar as sirenes.

A reportagem seguinte abordou o mesmo tema, em Portimão. No entanto, por lá, nenhum político deu à costa…
 

2016/05/27

A LENDA DO ABUTRE DA MAIA

Durante vários anos – fruto da vontade política dos sucessivos governos – a linha de metro termina na cidade da Maia, junto ao Ismai. Outrora, o comboio serviu as pessoas que se deslocavam até à Trofa. Os locais nunca se conformaram com esta decisão e reclamam, constantemente, pela chegada deste transporte público. Um anúncio governamental, com o intuito de prolongar a linha, reacendeu os ânimos e expectativas. Os mais saudosistas quiseram visitar o antigo traçado da linha de comboio. Actualmente coberto com vegetação bastante densa e algumas árvores. Contudo, o acesso está vedado e monitorizado pelas forças de vigilância privada. Mas, mesmo assim... 

 

Para afastar os curiosos – que não aceitam o não como resposta – um cidadão local (enquanto aguardava a chegada do metro) explicou a um grupo de pessoas que tamanha segurança estava relacionada com o abutre do Ismai! Uma ave enorme que surge por entre a vegetação para reclamar o sossego da floresta e que detesta forasteiros. Inclusive, condutores do metro quando param as composições no final do serviço. Alguns recusam-se! A linha termina na pequena floresta, porque ninguém ousa enfrentar a fera! Incrédulos, não quiseram arriscar. Dias depois, um jovem foi interceptado pelo vigilante. Estava vestido com um fato de plástico, máscara e chapéu. Tinha um pau na mão. Bastante alterado, gritava que tinha de chegar à floresta para matar o abutre, destruir a lenda para que o metro chegue à Trofa! Tinha de ser! À paulada! Agarrem-me que eu vou-me a ele! Ah, maldito abutre! Um produto da imaginação aventureira humana que se espalhou e que serviu para motivar. Porque é fundamental ter algo em que se acredita. Mesmo que seja uma brincadeira. Ou não.

in "As Crónicas Tugas, tem de ser" (Chiado Editora, 2016)

2016/05/24

VELHO E CANSADO

Esta é a primeira crónica que escrevo após a celebração de mais um aniversário. Não se preocupem se vos escapou a data. Sinceramente, nesta fase avançada da vida, até prefiro não receber os parabéns. Mais um dia, sem qualquer grande entusiasmo, para cumprir calendário. E, se pudesse, ficava sempre com a mesma idade! Pronto. Aceito que estou a ser melodramático e exagerado, pois são apenas 36 primaveras. Mas custam! A minha grande ambição foi conseguir atingir a maior idade. Obter a carta de condução e o cartão de eleitor - agora já não sei para que serve. Depois a compra do primeiro carro: grande, vistoso, imponente e ruidoso. Sem ligar nenhum ao valor das prestações bancárias e demais despesas. Afinal, os pais servem para isso! Olhando para trás, já tenho o dobro da idade e, entre retomas e aquisições, já vou na quarta viatura...

 

Excedi os objectivos e os sucessivos orçamentos familiares. Encaro a vida com outros olhos. Sinto que todos são mais novos. Aliás, já tenho possibilidade de integrar o plantel de uma equipa de futebol de veteranos! Mas, com o meu talento apurado e dois pés esquerdos, duvido que o consiga. É necessária grande aptidão física. E quando penso nisso, tenho a certeza que nem sequer um cão raivoso me faria correr grandes distâncias. Será uma grande perda para a modalidade! Mas isto não tem a ver com a velhice! Eu sei. Tudo o que descrevi chama-se “preguicite aguda”! E têm razão, caros leitores. Vou deixar estas parvoíces e retomar a escrita. Há mais crónicas humorísticas, bizarras e verdadeiras para partilhar. É esse o meu compromisso e aproveito para deixar o meu sincero agradecimento pelo vosso interesse, apoio e amizade!

in "As Crónicas Tugas, tem de ser" (Chiado Editora, 2016)

O SONHO DO TEU FUTURO

Um dia depois e ainda sinto o nervoso miudinho da mais recente data que ficará gravada, para sempre, na cronologia da nossa gloriosa história. 10 de Novembro. O dia em que recuperamos a nossa liberdade perante a austeridade, crise, fascismo e outras coisas que queiram ver aqui escritas. E eu, ainda ganhei uma conta extra, do telemóvel, pois ultrapassei o plafond de Internet móvel para conseguir acompanhar novas de Lisboa.

Na Assembleia teve lugar um debate, que durou dois dias, entre os dois pólos distintos. Os que queriam governar e os que queriam começar a governar. Confusos?! Não. O acordo inédito e histórico foi assinado e os partidos da oposição (a força de esquerda) apenas aguardavam pelo final do debate para entregar a moção de rejeição. Documento responsável pela queda do XX governo. O mais curto da história com 11 dias de duração. E mesmo assim deu para ver alguns aselhas e suas tristes figuras.

O povo saiu à rua! Algumas camionetas de excursão foram desviadas, da sua rota, para conseguir levar reformados até à capital. Todos a caminho das manifestações! Sim. Duas! Separadas por escassos metros e por alguns agentes de autoridade – assustados com o cheiro a naftalina – receando que os ânimos se exaltassem e tivesse lugar uma luta entre bengalas e andarilhos. Uns a favor da mudança política e os outros a favor do actual governo e austeridade. Já se gritava “liberdade”, “vitória” e “o governo caiu” duas horas antes da votação oficial. O entusiasmo tem destas coisas… A Grândola Morena também foi cantada.

E assim foi o remake do 25 de Abril. Sem confrontos. Sem violência. Sem chaimites. Sem cravos. Mas, tendo em conta as reportagens televisivas, a cabidela e o vinho tinto ficarão como símbolo deste dia… Mas a história não termina aqui! Tem a palavra, Cavaco Silva. É aguardar. 
 

2016/05/17

SOLUÇÕES DRÁSTICAS

Ao longe, o toque desenfreado das sirenes captaram a atenção de todos os transeuntes que circulavam na avenida. Com preocupação, todos questionaram o motivo de tanto alarido e sua gravidade. E eis que surge, no horizonte, uma viatura reboque ao serviço da polícia municipal e uma viatura de socorro da corporação de bombeiros local. Rapidamente, uma pequena árvore, plantada no meio de um passeio público, transformou-se no centro das atenções. Não se vislumbrou qualquer indício do motivo da urgência! Tudo em redor estava normal. Motivo (mais que suficiente) para se formar um pequeno ajuntamento de observadores sazonais para avaliar o panorama. Entretanto, depois de colocar a escada, um bombeiro, desapareceu por entre as folhas...

Para combater a falta de informação, alguns dos presentes desenvolvem estranhas teorias. «Vão cortar os galhos». «É um ninho de vespas asiáticas». Um grito de comando, vindo do interior da árvore, interrompeu a formulação de teorias. Um segundo bombeiro começou a retirar a mangueira da viatura. Com o jacto de água, na pressão máxima – visível pela quantidade de folhas e ramos que arrancou – apontou para o centro da árvore. Fez-se silêncio. Perante o olhar curioso e apreensivo, de todos os que assistiram a esta manobra, surge em pleno estado de terror… um pobre gato! E depois de sentir as suas patas em solo firme iniciou uma fuga, em linha recta, com tamanha velocidade que julgo ainda não ter parado de correr.
 

 

2016/04/16

A BALADA DO PARQUE INFANTIL

Torna-se cada vez mais difícil explicar às crianças qual a razão de não poderem aceder ao parque infantil do Jardim Basílio Teles, em Matosinhos. Primeiro foi a destruição completa dos equipamentos, fruto do vandalismo e falta de civismo. Algo que está espalhado por toda a cidade e, que, nos habituamos a aceitar. A troca de equipamentos demorou a acontecer. Durante vários meses, as crianças limitaram-se a observar um espaço amplo, propício ao passeio dos rafeiros para que lá pudessem "arrear o calhau". Porreiro! Finalmente começaram as obras. Novos equipamentos. As crianças iniciaram a contagem decrescente para um novo mundo de brincadeira. E ainda hoje continuam a contar. Confusos, caros leitores?! Já se perdeu a conta aos meses em que os equipamentos permanecem envoltos em sacos plásticos. Falta o chão. Será este o motivo?! Alguém importante para a inauguração pomposa?! Não faço ideia...

 

Há poucos dias estava um indivíduo, de colete, a vigiar o recinto. Enxotava os petizes que arrancaram alguns plásticos para começar a brincar! Caramba, está tudo montado e não deixam brincar?! Querem que o lobo não ataque as galinhas com o galinheiro aberto?! Tenham lá juízo! Alguém importante não quer brincadeira. Os equipamentos receberam barreiras de protecção metálicas. Parecem peças de museu. As crianças não brincam. Mas, num acto maquiavélico brinca-se com as crianças. Porquê?! Sinceramente não sei. Mas o silêncio faz desesperar! Tanta tecnologia, newsletters, jornais locais e, da Câmara Municipal, nem uma única palavra. Ou, se por acaso, existiu algum comunicado, foi tão "baixinho" que aqui não chegou. O que chegou foi a conta do IMI. O que ainda mais me revolta. 


in "As Crónicas Tugas, tem de ser" (Chiado Editora, 2016)

2016/04/05

UM GÉNIO DO CRIME

Penso que as pessoas que estão nas cadeias, privadas da liberdade, independentemente do crime que cometeram, deveriam receber auxílio de um daqueles especialistas em encontrar a vocação profissional. Se ousaram desafiar a lei, foram apanhados e agora estão presos… Claramente não têm jeito para o crime! Como se pode ter forças de autoridade à altura se os seus adversários deixam muito a desejar, em termos de qualidade? E alguns deles até são reincidentes! O que é pior! Um recluso em regime de prisão precária, de 37 anos, a cumprir pena em Paços de Ferreira, aproveitou a saída condicional para visitar a família...

 

Quando se preparava para regressar ao estabelecimento prisional resolveu atacar uma jovem de 21 anos, num estacionamento de um hipermercado, em Rio Maior, para lhe roubar a viatura. A viatura roubada estava na reserva, e teve de a abastecer. Um simples engano, no combustível, impediu a fuga às autoridades, que entretanto receberam o alerta. O génio do crime, ainda tentou ainda a fuga a pé, mas acabou por ser detido pelas autoridades. Francamente.

in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)

2016/02/25

O LANÇAMENTO DA VERGONHA

Mais um capítulo escrito com letras de ouro, no glorioso livro que relata a fantástica odisseia dos Tugas. A nossa nação (que teve início numa birra entre mãe e filho!) está sempre associada a notícias bizarras e humorísticas. Parece propositado, mas penso que será um dom especial. O Ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, deslocou-se à Base Naval de Lisboa para a cerimónia que oficializou a entrega do primeiro veículo aéreo não tripulado à marinha portuguesa. Tecnologia totalmente nacional! O lançamento foi mais curto que a cerimónia...

 

Na primeira demonstração e, perante um batalhão de jornalistas nacionais e internacionais, o AR4 Light Ray, empurrado por um fuzileiro vestido de ninja, enviou a pequena aeronave direitinha para a água, logo após ser lançada! Como seria de esperar, este episódio, já é motivo de chacota na média internacional, e com mais insistência no Brasil. Colocando uma pergunta curiosa: «Com tanta destreza, como descobrimos o Brasil?». Erro humano! Justificou a marinha. Um segundo lançamento foi efectuado e tudo correu como previsto. O Ministro aconselhou investir muito no treino para que, na hora certa, as missões não falhem.


in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)

2016/01/13

UM PRESÉPIO DOS DIABOS

Para além do consumismo desenfreado e prendas até perder de vista, ao Natal, associa-se a imagem do presépio. Nos últimos anos apareceram construções cada vez maiores mas, sempre reuniram consenso entre os devotos. Até este ano! Em Viseu, padre e fiéis estão em guerra por causa de figuras feitas com corda e serapilheira. Em Sanguinhedo De Côta, as figuras não têm olhos, nem boca, nem nariz. Segundo os seus criadores, trata-se de um “presépio moderno” e até reúne o apoio dos fiéis da referida igreja...

 

O padre da paróquia não está pelos ajustes e recusou-se a aceitar tal criação. Fez questão de o mostrar, na primeira oportunidade que teve, reclamando as figuras tradicionais perante uma igreja cheia de devotos. Ninguém conseguiu pregar olho perante tal sermão! «Aquilo é um presépio mutilado e deveria estar fora da igreja!». Perante os que foram à missa avisou que, no dia de Natal, irá à sacristia buscar a imagem tradicional do menino Jesus! Agora resta saber qual terá mais visitas.


in "Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)