2022/01/18

UM PONTAPÉ NAS BOLAS

É um tema muito complicado para abordar. O futebol é o único assunto que consegue provocar discussões, destruir amizades e, por vezes, partir alguns ossos aos Tugas. As mentalidades evoluíram, mas continua a ser mais fácil perdoar a um qualquer político que rouba em proveito próprio que a um árbitro que não marcou um penalty ou invalidou um golo. Toda esta paixão exacerbada transformou os clubes em empresas e temos, actualmente, toda uma panóplia de pessoas que se alimentam dos adeptos e sua disponibilidade para gastar dinheiro. Em nome do clube, claro! Ser Tuga e não gostar (ou não perceber a arte da bola) é como uma criança que não gosta de gelados ou até de hambúrgueres nas lojas de fast-food que todos conhecemos. Se tal acontecer, é porque algo não está bem! É levar o puto ao médico quanto antes. O mundo da redondinha é bem mais aliciante que o mundo dos estudos. E, claro, os salários também. Mesmo que não se tenha jeito para correr, fintar ou dar pontapés nas bolas há outras alternativas. Curso de treinador, director desportivo ou, quem sabe, presidente de um clube. Nenhuma destas possibilidades serve? Resta dirigir uma claque desportiva. Antes que descartem esta hipótese, leiam o resto da crónica (vá lá, já que chegaram até aqui) e fiquem a saber o que têm vindo a perder. Tenho de referir que – conforme tem sido meu hábito – os textos não procuram ataques pessoais, mas sim, a ironia patente nas situações abordadas. Que o humor tenha capacidade para “acordar” algumas consciências adormecidas…

O país está uma merda! Sabemos disso. A palavra corrupção tomou conta dos serviços noticiosos e, neste momento, quem não tem “cunhas” ou “favores a pedir” é considerado um grande otário! E a reputação do lado negro é proporcional ao valor “metido ao bolso”. Há perdões de dívidas milionários para o Ricardo Salgado enquanto para a Tia Micas – que não pagou uns míseros trocos – vai uma nota judicial com arresto de bens e ameaça de cadeia. Porque é importante tratar sem clemência os que mais lesaram o Estado Português: os que roubam alguns cêntimos! Este sentimento de inércia e marasmo permitiu-me assistir, impávido e sereno, à chegada do líder de uma conhecida claque desportiva para a sua última sessão judicial no Tribunal. Fez jus ao estatuto de estrela de cinema (atribuído pela comunicação social) e conseguiu surpreender por se ter feito deslocar numa viatura “Lamborghini”, cujo valor ascende aos trezentos mil euros. Certamente, muitos já encaram com bons olhos a possibilidade de seguir carreira política numa claque desportiva em vez de pagar propinas e sofrer todas as dificuldades do sistema de ensino público. Nas palavras imortais do antigo seleccionador nacional Luíz Filipe Scolari: “E o burro, sou eu?”. A resposta é simples: sou, sim senhor!
 

Sem comentários:

Enviar um comentário