2022/01/20

O MUNDO AO CONTRÁRIO

Segundo os cálculos científicos, já atingi metade da esperança média de vida. Fazendo as contas – e se tudo correr bem – restam ainda quatro décadas. O que, de facto, é uma óptima notícia para o meu gestor bancário e crédito habitação. Sim, quando estiver velho e caquético, vou poder dizer (se me lembrar, claro!) que sou um orgulhoso proprietário de uma casinha! Até lá, tenho uma parceria com uma tal de dona hipoteca, que nunca vi, mas está sempre presente! Quem casa, quer casa. Um dos ensinamentos que atravessou gerações. Contudo, os últimos tempos registaram mudanças comportamentais a um ritmo alucinante! As gerações mais velhas, que sempre foram consideradas fonte de sabedoria, são as principais vítimas. Hoje, uma conversa entre avós e netos é tão disfuncional que até pode ser em japonês! Não se entendem! Há um tremendo fosso de conhecimento entre eles. A infância dos mais velhos foi ao ar livre, com jogos tradicionais e brinquedos improvisados e todos eram amigos. Mesmo que uma qualquer discussão fosse resolvida a murro. No final da tarde, estavam todos (mesmo o que ficou com um olho negro) a planear o dia seguinte!

Actualmente, nada é feito sem a presença de um tablet ou telemóvel de última geração com recurso ilimitado às redes sociais. Os anciões, e seus conselhos válidos, estão desactualizados (alguns ainda se assustam quando descobrem que se utiliza um rato para mexer no computador. Ficou esperto o fuinha…). Compete aos jovens (os principais beneficiários desta actualização instantânea e mudança de valores) ter em conta a reintegração dos idosos na sociedade. Explicar-lhes que a democracia tem outros contornos e que, nestes tempos modernos, as leis são impostas pelas minorias. Haja quem explique à Ti Maria que a sua miserável reforma (calculada por uma forma aritmética indecifrável) pode desaparecer num rápido assalto. E que o meliante tem melhores armas que a polícia. Digam também ao Ti Manel, um mulherengo assumido – com várias conquistas amorosas no curriculum – que já não pode mandar piropos, ou comentar em voz alta os atributos das senhoras. Corre o risco de levar com uma manifestação à porta do centro de dia e ainda, uma multa bem pesada pelas autoridades. Coitado, com o que recebe de reforma, ficava sem comer sopa durante quinze dias...
 

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