2022/02/15

NÃO MORRER DA DOENÇA...

Apesar de ser o feliz proprietário de um apartamento – que será legitimamente meu quando eu já estiver quase senil, agarrado a uma bengala e com lapsos de memória – tento usufruir ao máximo dos dias que vou riscando no calendário. Mesmo com limitações de espaço, confesso ser um admirador da vida animal e, como tal, partilho a intimidade do meu lar com um peixinho encarnado. É sossegado, não suja a casa ou necessita que o leve à rua para deixar a sua marca… nos sapatos dos mais distraídos! Contudo, é um ser vivo e exige cuidados… A vaga de frio que tem atacado várias regiões do país e respectivas habitações (tem dias que sinto que estou trancado numa qualquer arca congeladora dum talho) obriga a cuidados redobrados com o aquecimento. A minha cozinha parece localizada em pleno Alasca! Chego a pensar na questão de alterar o registo da minha casa: uma parte em Matosinhos, a outra no Alasca. Pelo menos pouparia na questão do Imposto (IMI). E nem preciso de verificar qual a taxa aplicada lá! O pobre peixe também sofreu com o frio. O termómetro da água indicava 17ºC! Quase dez graus abaixo da temperatura ideal. Ou seja, o meu peixe corria risco de hipotermia! Ou congelado vivo! Seja como for, algo tinha de ser feito para evitar aquele cenário de terror no aquário de 5 lts. Imbuído no espírito de socorro, iniciei a minha jornada para salvar a vida do pobre guerreiro de água estagnada.

Descobri, nas lojas de especialidade, que a tendência actual é ter aquários de tamanho XXL. Ou seja, um parolo como eu – que tem um quadrado pequeno que o peixe quase nada com o rabo de fora – sente-se imediatamente envergonhado e sem encontrar aquilo que procura: uma resistência térmica para aquecer a água. A solução mais óbvia foi, certamente, recorrer à sapiência e qualidade das lojas chinesas. Comprei um aparelho destinado a aquários de 100 litros. Vinte vezes superior ao que necessitava. No entanto, senti que algo tinha de ser feito pelo peixe. Morrer enregelado não é digno! Se bem que assado, não parece melhor... Dois minutos depois de ligada e colocada na água, a resistência resolveu estourar! Dezenas de pedaços de vidro explodiram em redor do peixe que, alheio ao que se passava, continuava a passear. «Pronto! Foi desta que matei o peixe!» Foram as primeiras palavras que proferi! Também soltei uns palavrões mas, para manter a decência, prefiro não especificar… Asseguro que o peixe não morreu. Escusam alertar as autoridades competentes ou os serviços sociais. Apesar de toda a minha disponibilidade e boa vontade – e tremenda dose de aselhice – cheguei à conclusão que a solução foi mudá-lo de lugar. Geralmente a solução mais simples é a mais acertada. Vá se lá saber porquê, raramente se coloca em prática. Arrisco-me, sem dúvida, a dizer que o pobre não morreu da doença… mas, caramba, quase virava defunto com a cura!
 

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