2018/08/16

POBRE VAGABUNDO

Ao longe era bem perceptível um vulto deitado no jardim. À medida que a distância se encurtava foi possível observar um indivíduo, com aspecto menos cuidado, a ressonar bem alto, no meio do jardim da avenida. A relva húmida era um mero pormenor que, tendo em conta o ruído, não lhe perturbava o sono. Pelo contrário. Nestas situações a educação e caridade querem, de imediato, solicitar assistência médica. O senso-comum – impulsionado pelo aspecto do homem – quer ignorar e deixar o “gajo” para curar a ressaca. Debate interno inútil porque a chamada foi feita. A mota do INEM foi a primeira a chegar ao local. Primeiro com meiguice e depois com duas abanadelas conseguiu captar a atenção do dorminhoco. Uma única frase repetida: «deixem-me dormir!». Também saíram palavrões. Não vale a pena citar.... 

Os minutos passaram. Entretanto chegou a ambulância dos bombeiros. Receberam a indicação da pretensão do homem. Mesmo assim, foram dar umas quantas sacudidelas. A resposta foi a mesma. Regressaram para preencher a respectiva papelada. Nada mais havia a fazer! Levar alguém para o hospital só porque tem vontade em dormir. Quer no jardim? Assim seja! A polícia foi a última a chegar ao local (isto não é piada!). Dois agentes aproximaram-se, das equipas de socorro, e inteiraram-se da situação. Optaram, também, por abanar o pobre vagabundo. Fizeram-no com os pés (a autoridade tem uma maneira própria de agir). O desgraçado, que apenas queria dormir, farto de tanta agitação, levantou-se para mudar de rua e de jardim. Deixaram-no na paz dos anjos, na expectativa de ver o sistema de rega automático em funcionamento.

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