2015/09/21

ATÉ QUE A MULHER OS SEPARE

Ao longo dos anos fazemos muitos planos para o futuro. Tenho a certeza que nenhum deles está relacionado com a morte ou a nossa última morada! Porém, tudo pode ser planeado! Em Guimarães, Amâncio Silva, toma conta do seu próprio jazigo. Já pôs o seu nome e fotografia, apesar de ainda estar vivo, para espanto dos que lá passam. O idoso (actualmente separado, mas não oficialmente) desconfia da mulher e teme que ela o ponha noutro lado quando morrer. Assim, com a foto e o nome, toda a gente sabe que o local está escolhido e reservado...

 

Inicialmente queria comprar uma campa única, mas já só havia um jazigo duplo. Assim, o sepulcro do lado está destinado à restante família. Como se não bastasse, deixou em testamento a vontade de ficar no local, que por coincidência, é ao lado do seu antigo chefe, entretanto falecido: «Eu ajudava-o numa quinta que ele tinha, e ensinou-me tudo o que eu sei hoje». Até à mudança definitiva cuida meticulosamente do seu jazigo, mas nada de flores! Até lá, a campa vai sendo motivo de conversa entre os locais.


in "As Crónicas dos Tugas" (Chiado Editora, 2014)

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